Marina Person analisa a audiência

Hoje em dia, assim como tempos atrás – aliás não consigo pensar num tempo em que não tenha sido assim -, a relevância e o sucesso de tudo o que é feito em tevê se medem pelo número de telespectadores ligados.

O Ibope, essa entidade respeitada, temida e odiada por muitos, exerce seu poder de forma soberana, inquestionada. As leis que regem esses números geram outros números, mais poderosos ainda, os números dos intervalos comerciais, que pagam o salário de quem manda e desmanda no que vemos como produto final exibido.

As colunas de televisão, essas dedicadas a nos fornecer informações sobre as emissoras, semanalmente nos bombardeiam com comparações de audiência de uma batalha inglória pela liderança de audiência. No entanto, não se pergunta a que nível apelou Gugu para dar um baile no Faustão, que se contentou em explorar a vida íntima de algum astro global. Não se questionam os meios, mas se divulgam os fins. A discussão é vazia, não se levantam questões de outra ordem. Entendo que o ibope é necessário para se compreender os mecanismos de mercado e até de identidade cultural, mas os números não podem ser a única discussão. E o conteúdo? Como um par de números impera sobre todos os outros valores éticos, humanos, morais, culturais?

Mas por nem todos os males é responsável o ibope. Parecemos esquecer que a televisão é uma concessão pública, explorada por uma empresa privada. Sendo assim, as empresas privadas não deveriam fazer jus à essa condição e equilibrar um pouco melhor a balança lucro/produtos culturais? Olhar um pouco menos para aqueles outros números, os de valor comercial, e fornecer material de qualidade que instrua, divirta e melhore a condição social do povo brasileiro? Não é isso que está na cartilha?

O mesmo ibope que coloca em nossas casas programas de péssimo gosto e nenhum valor, como Eu Vi na Tevê com seus testes de fidelidades, Festa do Mallandro, Big Brother Brasil, etc… também coroou uma iniciativa louvável na tevê brasileira, que foi tema de 9 entre 10 críticas de televisão. Cidade dos Homens, exibido pela Globo, superou as expectativas e fez vibrar novos ares na teledramaturgia brasileira. Contando as histórias de Acerola e Laranjinha, colocou nos lares uma realidade muito mais contundente, interessante e verdadeira do que qualquer reality-show.

Alavancados pelo sucesso de Cidade de Deus, o filme que já ultrapassou a marca dos 2 milhões de espectadores, Cidade dos Homens trouxe uma combinação feliz de entretenimento e conscientização, uma tentativa de diminuir o abismo da desigualdade social no país. É um caminho. O êxito tanto do filme quanto da microssérie deixa esperanças de que o sucesso, aquele mesmo que é medido através de números ao qual me referi no começo, nem sempre erra de casa.

Marina Person

é apresentadora do programa Meninas Veneno, da MTV.

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