d8c.jpg?Sou do tempo em que se usava o ferro de carvão em brasa para passar roupa e, quando as brasas crepitavam e soltavam fagulhas, devíamos dizer: ?Dinheiro que venha?…? Quando ainda criança aportou em Curitiba, em 1929, Margarita Wasserman tinha um sonho, assim como os demais imigrantes (judeus árabes, orientais e europeus) que chegaram em busca de uma nova vida e tranqüilidade. ?Apesar da ascendência judaica, não sei ganhar dinheiro, mas aqui realizei meu sonho, que era me tornar escritora?, conta a autora.

continua após a publicidade

Aos 78 anos de idade, escritora há mais de dez, e com sete livros lançados, o último (Marimbondos) à venda na Livraria do Chain e na Guerrero (Rua XV), Margarita vive com alegria e por onde passa, com seu olhar sincero, ganha as pessoas em poucos minutos de sua conversa aberta. ?Vivo com alegria, mas não desfruto da cidade como antigamente. Curitiba não é a mesma?, diz ela, lamentando a atual falta de solidariedade do povo.

Segundo a autora, seu início como escritora se deu com o apoio de amigos pessoais e da família, que, ao receber suas cartas, observaram um texto rápido e crônico. Entre os destinatários de Margarita, personagens ilustres da nossa cultura, como Valêncio Xavier e Dalton Trevisan. Privilégio para poucos… – o que dizer ou imaginar da troca de correspondências com o eterno ?Vampiro de Curitiba?? Com algum sarcasmo literato de traço fino, nossas ruas, bares, políticos e personagens anônimos certamente foram esboçados.

O gosto pela literatura surgiu cedo e, aos treze anos, na casa de vizinhos russos, ela trocava as brincadeiras por horas de leitura, quando conheceu autores clássicos, de envergadura criativa rica. ?Dostoievski, Tolstoi e outros russos eu aprecio até hoje?, conta, lembrando de seu amigo, e um dos ícones em contos no Brasil, Dalton Trevisan. Em Marimbondos, a escritora abre seu baú cheio de idéias e pensamentos e põe para fora seu olhar íntimo sobre a Curitiba que compôs sua vida. Na ilustração da capa, um grupo de marimbondos, idéia de sua editora, Antônia Schwinden, voa de um baú semi-aberto. Cada crônica do livro, escrita por um olhar direto e sensível, revela situações cotidianas e problemas incrustados na sociedade.

continua após a publicidade

Para Margarita, se houvesse mais carinho e solidariedade, as calçadas não estariam tão marginalizadas e não haveria verdadeiros ?circos de horror??, como ela observa os pobres mutilados que vivem desabrigados. ?O que me resta é reclamar e conviver com a situação. Às vezes tenho que dar um corridão nos vagabundos que preferem pedir a trabalhar. Enfim, Curitiba é meu berço e meu mundo?, finaliza.

*Atualmente Margarita Wasserman escreve crônicas para O Estado, aos domingos. 

continua após a publicidade