O dia era 30 de setembro, e Marilyn Manson fazia um show em Nova York já como parte da turnê norte-americana de Heaven Upside Down, seu décimo disco de estúdio, lançado oficialmente no último dia 6 de outubro. Ele estava cantando sua versão de Sweet Dreams (Are Made of This), e logo depois do icônico verso “some of them want to be abused”, se agarrou numa peça de decoração do palco, que caiu sobre o seu corpo de 48 anos, quebrou vários ossos da sua perna e fez os médicos lhe encaixarem pelo menos 10 parafusos. “Estou bem”, disse à reportagem 20 dias depois. “Sempre que algo acontece você tem que se adaptar. Não vou parar. Estou muito determinado com esse disco. Quero ir para todos os lugares espalhar a mensagem.”
A mensagem a que o cantor e compositor se refere é a “integridade do rock n’ roll”, mas, segundo o próprio, bem mais no sentido da atitude do que do som propriamente dito. “Tudo na vida é uma encenação. Todo mundo faz um certo personagem. Eu escolhi há muito tempo ser alguém que eu não era, porque eu não gostava de mim mesmo. Hoje em dia, não quero ser mais ninguém além de mim mesmo.”
Dois anos depois do goth metal mais maduro de The Pale Emperor (2015), que exibia com criatividade um glam rock decadente, Manson está de volta com seu décimo álbum – e com Heaven Upside Down ele entrega canções mais próximas daquelas que lhe fizeram conhecido, com riffs de power chord pesados e letras “chocantes”, o que quer que isso queira dizer em 2017. “Eu escrevo canções para lutar e para f****. / Se decida ou eu vou decidir por você”, canta em JE$U$ CRI$I$.
“As pessoas fazem coisas na vida e lidam com as consequências”, diz Manson de sua casa em Los Angeles, onde passou um tempo de recuperação ligando para jornalistas de vários continentes. “Tentei fazer desse disco algo que as pessoas aceitem e gostem, e acho que está indo na direção correta. Mas também não queria fazer algo forçosamente pegajoso.” Seu principal parceiro no álbum foi Tyler Bates, com quem ele também fez The Pale Emperor. O que as resenhas questionam é se Manson não tem medo de ser repetitivo. Tem?
“Bates não fez os meus álbuns mais antigos, então sim, isso passou pela minha mente. Como quero que meu vocal soe? Como nos primeiros discos? Eu percebi que as pessoas dizem isso sobre mim, mas não tenho certeza. Há coisas que se repetem nos álbuns, eu chamo isso de obsessões. Não estou seguro de onde vem, mas talvez seja o lance de crescer numa escola cristã, etc. Eu tento ser bem específico com os tons. Muitas das canções têm jeitos específicos de se comunicar.”
É provável que no futuro Mason busque ainda outros jeitos de comunicar: recentemente, ele comentou uma possível parceria com Lil Uzi Vert, jovem rapper da Filadélfia que estourou esse ano numa parceria com o trio Migos e o disco Luv Is Rage 2 – a dupla heterodoxa começa a ser cogitada no ano em que o hip hop ultrapassou o rock n roll pela primeira vez nos EUA, segundo relatório da Nielsen.
“Esse lance é estranho, há várias coisas aí”, reflete Manson sobre a questão. “Eu mesmo comecei a ter um desejo de misturar gêneros, talvez um pouco menos de guitarra. Claro que sei a diferença, mas realmente dá pra separar entre gêneros assim? São muitos estilos, bandas com muito nomes não gosto de bandas com mais de dois nomes. Eu gosto de ouvir coisas boas e que são reais. Adorei o disco novo da Rihanna. Ela ao vivo é demais, ela manda no palco. Em vários sentidos isso é mais punk rock do que se alguém tentasse emular os Sex Pistols. É sobre autenticidade.”
Recentemente, o cantor se viu no meio de um dos escândalos sexuais que estão aparecendo na indústria do entretenimento. O baixista de sua banda, Twiggy Ramirez, foi acusado de estupro por Jessicka Addams, cantora de rock conhecida como a vocalista da banda Jack Off Jill. Manson demitiu o músico dias depois.
Por causa do acidente no palco, o cantor cancelou todas as datas de outubro da turnê americana, que está programada para ser retomada no domingo, dia 5, e ir à Europa em seguida.
2017 foi um ano difícil para o artista de 48 anos: em julho, seu pai, Hugh Warner, morreu aos 70 anos, e segundo o cantor isso lhe ensinou que é importante aproveitar o momento. “Se você está em um ponto da sua vida de fazer o que quiser, aproveite. Não deixe o sonho passar enquanto ele está acontecendo.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.