Marília Pêra interpreta uma cantora desafinada

Marília Pêra repetiu sua rotina espartana para compor a protagonista do musical Gloriosa, que estreia sexta-feira, no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo. Ela tomou conhecimento de todas as canções que iria cantar, ensaiou durante um mês, fez preparação vocal até chegar o momento mais inusitado de sua carreira: aprender a desafinar. “Isso porque, no palco, interpreto uma cantora que não acertava uma única nota musical”, explica a atriz. “Foi uma verdadeira desconstrução de minha voz.”

Reconhecida pelo virtuosismo no canto e na interpretação, que a permitiu viver divas como Maria Callas, Marília Pêra vive agora outro papel inspirado em um personagem real, mas uma mulher cafona, que se vestia mal e cantava pior ainda e exibia uma bondade extrema: Florence Foster Jenkins (1868-1944), soprano americana que se tornou uma lenda em Nova York nos anos 1940 pela desafinação e falta de ritmo com que entoava peças clássicas de Mozart, Verdi e Strauss.

Florence deixou gravadas nove árias, hoje disponíveis em CD. Marília Pêra ouve as canções diariamente para detectar as falhas da americana. “Ela só acertava uma em quatro notas no agudo.” Gloriosa apresenta dois momentos distintos. O início é cômico, com a excentricidade e a desafinação de Florence provocando gargalhadas. Logo, o drama, com as críticas que lhe apressaram a morte. “É difícil conter as lágrimas”, acredita a atriz.

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