Marília Pêra faz um voto de silêncio. Mas por uma boa causa – ao menos durante 9 horas por dia, a atriz não emite uma palavra, um som qualquer. Tudo para preservar o canto afinado que exibe em Alô, Dolly!, musical que encerra temporada no Rio e que estreia aqui no dia 2 de março, no Teatro Bradesco. No papel-título, Marília está, como de hábito, um arraso, ainda que à custa de um certo sacrifício. “Tenho oito solos durante o espetáculo, praticamente não saio de cena, vocalmente é muito cansativo”, comenta. “Mas é por uma boa causa, pois o musical é lindo e romântico.”
Inspirado em A Casamenteira, peça que Thornton Wilder lançou em 1955, Alô, Dolly! foi escrito por Michael Stewart, com música e letras de Jerry Herman, e logo se tornou um estrondoso sucesso de público e crítica – levou dez prêmios Tony em sua primeira temporada na Broadway, em 1964. O motivo é sua trama clássica: na Nova York de 1890, Dolly Levi sobrevive como uma casamenteira que, graças à inteligência e à malícia, não só acerta a vida dos outros como também prepara habilmente seu matrimônio com Horácio Vandergelder, um milionário, caipira e viúvo, que está em busca de uma nova mulher.
“O musical trata da sobrevivência”, observa Miguel Falabella que, além de viver Horácio, é responsável pela versão brasileira e pela direção-geral do espetáculo. “Dolly é aquela imigrante judia da Europa oriental que aprendeu a se virar – além de promover uniões matrimoniais, é consultora jurídica, dá aula de dança e bandolim. Uma mulher que luta pela vida. Na verdade, o original de Thornton Wilder revela-se uma peça sobre o dólar, sobre o dinheiro. Meu personagem representa os EUA e sua fortuna, enquanto Dolly lembra a Europa e sua alegria de viver.”
De fato, é no embate entre muquiranas e perdulários que se equilibra o espetáculo, graças, é claro, ao entrosamento entre Marília e Falabella. “Fazemos uma dobradinha em cena, aprendo muito com a respiração dele, enquanto Miguel tem respeito pelas minhas pausas”, comenta a atriz. “O sucesso da comédia reside na respiração. A maneira como é dita uma frase é que provoca a gargalhada do público. E jogar com a Marília é gratificante: a bola vem no pé, só não faz gol quem é vagabundo. É como jogar com o Messi”, devolve ele.
Alô, Dolly! – Teatro Bradesco – Bourbon Shopping. Rua Turiassu, 2.100, 3º piso, Pompeia, telefone (11) 4003-1212. 5ª, 21 h; 6ª, 21h30; sáb., 18 h e 21h30; dom., 18 h. De R$ 20 a R$ 200. Estreia em 2/3.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.