Marília Gabriela fará a dona de um jornal na próxima novela das oito

O último “réveillon” foi decisivo para Marília Gabriela. Ela estava na casa do autor Manoel Carlos no Rio, em companhia do marido, o ator Reynaldo Gianecchini, quando começou a listar as suas resoluções de final de ano. Entre as muitas que traçou, decidiu que se permitiria algumas alegrias em 2004. Fazer novelas seria uma delas. Foi então que, no meio do espocar dos champanhes, resolveu que aceitaria o convite do autor Aguinaldo Silva para fazer Senhora do Destino, que estréia dia 28 de junho. “Todo mundo tem mais do que a obrigação de explorar suas possibilidades. Isso é vital para eu me sentir viva e não tornar a minha vida um tédio. Sou contra qualquer tipo de frustração”, garante.

Na próxima novela das oito, Marília Gabriela empresta a imponente voz grave e os expressivos olhos azuis a Josefa Duarte Pinto, a poderosa dona do fictício jornal carioca “Diário Popular”, que declara guerra ao governo militar. Perseguida pela ditadura, foge para o exterior e morre no exílio. Para compor a personagem, Marília foi buscar inspiração em outra jornalista, a italiana Oriana Falacci. Compor a personagem, reconhece, foi fácil. Difícil foi ver-se no vídeo. “Eu me vi rapidamente numa cena e não quis mais olhar. Pensei: ‘Gente, mas sou tão feia’. Já me disseram, porém, que todo mundo quando começa acha isso mesmo”, minimiza, pouco convicta.

Inseguranças à parte, Marília Gabriela volta à Globo depois de 20 anos. O último trabalho da jornalista na emissora foi em 1984, como correspondente em Londres. De lá para cá, já peregrinou por Band, CNT, SBT e Rede TV!. Desde agosto do ano passado, passou a exercer também a função de produtora-independente do “De Frente com Gabi”. A falta de vocação para o cargo, no entanto, pesou na hora de rescindir com o SBT. Mesmo assim, Marília é do tipo que gosta de enveredar por outras searas, como a música, o teatro e o cinema. Aos 55 anos de idade, 35 deles dedicados ao jornalismo, porém, ela sequer cogita trocar uma carreira pela outra. “Espero que não me deixem largar o jornalismo, assim como torço para que me deixem evoluir como atriz. Se pudesse, faria tudo: canto, bordado, sapateado…”, diverte-se.

Espírito de “foca”

Em 35 anos de carreira, Marília Gabriela se orgulha de contabilizar mais de 10 mil entrevistas. Ela mesma reconhece que não sabe o que faria da vida se não fosse jornalista. E foi exatamente isso o que ela disse para o então diretor de jornalismo da Globo, Paulo Mário Mansur, em 1969, quando, recém-chegada de Campinas, sua cidade-natal, procurou emprego em São Paulo. Logo no primeiro dia de trabalho, uma repórter faltou e lá foi a “estagiária-observadora-não-remunerada” fazer sua primeira reportagem: a suposta troca de um Stradivarius por uma galinha. “Quando comecei, tremia em todas as reportagens que fazia. Até que encontrei um político que tremia mais do que eu. Aí, pensei: ‘A lógica é essa! Quem deve tremer são eles…'”, ri.

Não demorou para Marília assumir outras funções na Globo, como apresentadora do Jornal Hoje e repórter especial do Fantástico. Nos anos 80, fez história ao apresentar o programa TV Mulher, ao lado do jornalista Ney Gonçalves Dias, hoje à frente do Bom Dia, Mulher, da Rede TV!. “O próprio Giane, pequenininho, já me via no ‘TV Mulher’…”, diverte-se. Depois de uma temporada de seis meses na Europa, como correspondente internacional, Marília Gabriela transferiu-se para a Band, onde tornou-se a mediadora oficial dos debates entre os candidatos às eleições presidenciais de 1989. “Certa vez, o Aureliano me disse que eu mais parecia uma bedel. Aquilo era um inferno. Mas foi uma maravilha participar daquele inferno…”, brinca.

Em todas

A década de 90 foi a mais instável na carreira de Marília Gabriela. Depois que saiu da Band em 1995, passou ainda pela CNT, SBT e Rede TV!. Na CNT, apresentou um programa de auditório, que não durou um ano sequer. “Descobri que sou muito malcriada. Não suporto gente conversando enquanto entrevisto”, reclama.

Marília enveredou também pela tevê por assinatura. Na GNT, apresentou Aquela Mulher por dois anos e Marília Gabriela Entrevista desde 1997. Longe de reclamar de cansaço, se diz realizada por não dispor de tempo livre.

Marília Gabriela já gravou também três CDs, lançou um livro de entrevistas e participou de três longas. As primeiras incursões pela música aconteceram nos anos 80. De cantora em festinhas e reuniões na casa de amigos, Marília propôs a José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que gravasse uma música para o Fantástico. Nessa época, ela chegou a apresentar o programa Aplauso, ao lado de Christiane Torloni, Zezé Motta e Tônia Carrero. Por fim, virou até especial na Globo, Marília Mulher Gabriela, onde cantou com Gonzaguinha e Milton Nascimento. “Meu especial deu 53 pontos de ibope. Que loucura, não?”, diverte-se. Em 1994, lançou Cara a Cara com Marília Gabriela. Nele, reproduziu entrevistas com nove políticos brasileiros e traçou um retrato do Brasil na transição do governo militar para o civil.

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