Mariana Ximenes, um anjo rebelde

tv41.jpgEla é uma ?patricinha? que compra suas ?lingeries? em Miami. Não, ela é uma jovem que namora homens mais velhos. Não, ela é uma ?tchutchuca? típica dos bailes funks cariocas. A Raíssa de América é tudo isso. Uma jovem instigante, com profundos problemas familiares e uma personalidade multifacetada, do jeito que Mariana Ximenes gosta.

A intérprete de Raíssa mais uma vez se depara com um papel complexo e que exige um exaustivo trabalho de interpretação. Com um currículo que inclui tipos pouco ortodoxos como a ?apimentada? Bionda, de Uga-Uga, e a ?noviça rebelde? Celi, de Andando nas Nuvens, desta vez ela vive as crises existenciais de uma adolescente filha de uma família de classe alta emocionalmente desestruturada completada pelos personagens Glauco, de Édson Celulari, e Haydée, de Christiane Torloni. Tamanha densidade pegou a atriz meio de surpresa. ?Na verdade, eu não sabia que iriam acontecer todos esses conflitos. E a Glória tem desenvolvido com muita maestria essa relação entre pai, mãe e filha?, avalia.

Aos 24 anos de idade e com nove anos de carreira profissional, Mariana se considera pronta para aceitar qualquer tipo de papel, sem preferências. Da mesma forma, se diz igualmente encantada pelo teatro, pelo cinema e pela televisão. E, ao ser questionada sobre qual seria o seu grande desejo profissional, ela não hesita em apontar que sua maior vontade é poder comemorar, ainda em atividade, 60 anos de carreira ou mais. ?Tudo o que eu mais quero na vida é continuar trabalhando e chegar aos 70, 80, 90 anos no palco, como o Paulo Autran ou o Sérgio Britto?, sonha. E a receita para chegar lá a jovem atriz parece ter em mente desde os seis anos de idade, quando começou a ensaiar os primeiros passos da carreira, ainda nas aulas de teatro. ?Tem que ter vocação para resistir e para fazer as escolhas certas. E manter os seus valores, o que você acredita e trilhar sua meta de acordo com isso?, ensina.

P – A Raíssa tem se mostrado uma personagem com conflitos bem complexos. Como é viver esses conflitos?

R – É muito interessante abordar essas questões, até para mostrar como não devem ser as relações, que as relações devem ter um maior aprofundamento, que as pessoas devem tomar mais cuidados, cuidar mais. A filha precisa de atenção, não apenas de bens materiais, já que a Raíssa é de uma família rica. Não apenas os bens materiais são necessários. Há uma necessidade de atenção. Logo no primeiro capítulo, a Raíssa toma um tiro de raspão em uma coisa, infelizmente, muito comum no Rio de Janeiro, que são os tiroteios e a solução que a família apresenta é sair do país. E aí há um questionamento: será que sair do país realmente é a solução? Eu não acredito nisso. Acredito que a gente tem que ficar no nosso país, ter esse instinto patriota e tentar melhorar cada vez mais a situação do país. Não é fugindo da violência que você vai solucionar a vida do país.

P – Qual o ponto em comum que você vê entre as personagens que interpretou na tevê? Talvez uma certa ingenuidade…

R –  Não, eu não concordo. Em Uga-Uga, a Bionda não era nada ingênua. Pelo contrário, ela era totalmente espevitada. A Ana Francisca, de Chocolate com Pimenta, sim, era bem mocinha de novela. Mas era uma mocinha atípica, porque se tornou viúva e batalhou com todo mundo. Ela também tinha sua fortaleza, sua força interior. Na verdade, ela começou como um patinho feio e teve uma transformação no meio da novela, o que foi muito interessante. Com a Raíssa eu também tive a oportunidade de mudar no meio da novela. São praticamente dois personagens, mas com o mesmo fio condutor. Mas fazer a mudança é muito gostoso para o ator. Em ?A Casa das Sete Mulheres? eu fiz a Rosário, que era ingênua mas tinha um pé na loucura, não era tão doce assim. A freirinha que eu fiz em Andando nas Nuvens era uma noviça que, de repente, se transformou. Em A Padroeira, sim, eu fiz uma mocinha típica, de época.

P – Você tem vontade de fazer algum tipo específico de personagem?

R – Ah, muitos. Eu gosto de personagens diferentes. Nenhum especificamente, são tantos. Quando eu vejo um filme e o personagem tem uma garra, uma gana, sofre alguma modificação… É tão prazeroso ficar imaginando ?nossa, que personagem bacana de fazer!?. Eu gosto do processo de criação, me interesso por isso. Como, por exemplo, a Hillary Swank, que fez Meninos Não Choram, onde ela era um garoto, e depois fez Menina de Ouro, onde você vê que a mulher treinou muito. Então, esse tipo de processo, de treinamento, de desafio é bacana. Eu gosto do processo de criação mesmo, é isso que me desafia, que me instiga.

P – A Raíssa sofre com uma certa falta de compreensão dos pais. E a sua família, sempre apoiou sua decisão de ser atriz?

R – No começo foi meio difícil. Eu vim morar sozinha com 17 anos no Rio e acabei não fazendo faculdade por conta disso, por conta dessa opção. Eu já tinha passado para a faculdade de Cinema. E aí eu pedi o apoio deles, porque senão eu seria uma jovem para sempre frustrada em casa. Eles optaram por me deixar vir e por me dar toda a orientação possível. E eu acho que é a melhor solução, mas cada pai tem a sua consciência, o seu método. Mas aí a gente volta para toda aquela discussão de família que Glória Perez aborda, de exercitar o diálogo, a compreensão sempre.

Destino traçado na infância

Mariana Ximenes é do tipo que nunca teve dúvidas com relação a querer ser atriz. Já com seis anos de idade ela começou a estudar teatro em São Paulo, sua cidade natal. Participava das turmas de teatro no colégio e chegou a integrar alguns grupos alternativos isolados. Mais tarde, Mariana estudou no conceituado Teatro-Escola Célia Helena, antes de partir para um intercâmbio na Inglaterra. Ao voltar para o Brasil, então com 15 anos, surgiu a oportunidade de fazer sua primeira novela, Fascinação, de Walcyr Carrasco, no SBT. ?Eu comecei muito novinha, né? Mas foi ótimo, está sendo ótimo?, diverte-se.

O talento da jovem atriz foi prontamente reconhecido e logo surgiu o convite para se transferir para a Globo. Em 1999, Mariana interpretou a freirinha Celi Montana em Andando nas Nuvens, onde contracenou com feras como Marco Nanini e Débora Bloch. A partir daí, a voz suave e o jeitinho cativante levaram a atriz a receber diversos convites para viver mocinhas. As mais marcantes foram a elétrica Bionda, de Uga Uga, em 2000; a delirante Rosário, da minissérie A Casa das Sete Mulheres, em 2003; e a viuvinha batalhadora Ana Francisca, de Chocolate com Pimenta, também em 2003. ?Apesar de ser uma mocinha, ela era diferente. Foi uma personagem baseada na Viúva Alegre, de Franz Lehar?, destaca. Com 24 anos de idade e há nove atuando profissionalmente, Mariana Ximenes interpreta Raíssa em América com a bagagem de quem já está em sua sétima novela. Além disso, a atriz acumula a experiência de filmes como O Invasor, de Beto Brant, e O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca, entre outros.

Amores bandidos

Por diversas vezes, Raíssa, personagem de Mariana Ximenes em América, ensaiou um flerte com um lado algo marginal da vida, fruto da instabilidade emocional de sua família. Inicialmente com o romance com Tony, papel de Floriano Peixoto, um homem bem mais velho. Depois, com a identificação com o funk, que leva a menina rica a freqüentar bailes em comunidades carentes. De tanto ensaiar, a personagem acabou, de fato, conhecendo um bandido. ?Na busca por essa sua verdade, a Raíssa acabou se envolvendo com o Alex, personagem de Thiago Lacerda, que é o grande vilão da trama?, avalia a atriz.

Não é a primeira vez, entretanto, que a atriz vive essa proximidade com ?o lado negro da força?. No filme O Invasor, de 2001, dirigido por Beto Brant, Mariana interpreta a jovem Marina, personagem que se sente atraída por um chantagista mau-caráter, no caso, o tal ?invasor? da história, que deseja subir na vida a qualquer custo. ?Também no filme, a personagem se envolve com o grande bandido da trama, que é o Anísio, interpretado por Paulo Miklos?, observa.

Em A Casa das Sete Mulheres, minissérie dirigida por Jayme Monjardim e exibida em 2003, mais uma vez uma personagem de Mariana Ximenes viveu um amor proibido. O objeto de desejo, se não era um bandido no sentido primário do termo, era um inimigo. Na história, que tem a Guerra dos Farrapos como pano de fundo, Rosário, papel da atriz, se apaixona por Estevão, interpretado por Thiago Fragoso. O problema é que ele é um soldado das tropas imperiais, inimigas do exército rebelde comandado pelo tio da menina, Bento Gonçalves. Pior: ele é um soldado morto, que insiste em aparecer para ela. ?Foi uma situação que levou a personagem à beira da loucura?, recorda.

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