Um amigo disse para Maria Ribeiro que adorou o documentário dela sobre o grupo Los Hermanos, mas fez uma ressalva – não tem conflito. Como assim? “O filme Los Hermanos – Esse É Só o Começo do Fim da Nossa Vida é o Lennon e McCartney. Rodrigo e Marcelo, as duas cabeças pensantes da banda, seguiram carreiras separadas. Reuniram-se somente essa turnê. O conflito é interno, subjacente. Está ali o tempo todo”, ela reflete. Como documentarista, seu desejo era fazer um filme como o mítico Don’t Look Back, de D. A. Pennebaker, com Bob Dylan. Queria mostrar as pessoas distraídas, relaxadas. “É nesses momentos que acho que a câmera consegue captar mais coisas.”
Mas ela reconhece – mais que sobre os Hermanos, o filme é sobre ela. “Tenho esse lado jornalista muito forte. Quando criança, dizia que queria trabalhar no Globo Repórter. Depois, fui ser atriz, sempre querendo aparecer. Mas a repórter continuou. Tenho o melhor trabalho do mundo no Saia Justa. Sou paga para estudar, entrevistar. Aprendo muito. Com meu cinema é a mesma coisa. Fiz o documentário Domingos, sobre Domingos Oliveira, com equipe reduzidíssima. Era eu com a câmera e o gravador. Aqui é outro grupo bem pequeno. Fico observando, tentando pescar as coisas.”
A pergunta que não calar – como é fazer um documentário sobre uma banda que não fala? “Pois é, cara, era esse o desafio. Tem momentos em que eu estou ali de fã, de tiete mesmo. Mas na verdade estou sempre atenta, feito antena, tentando captar as coisas. Não filmei muito. Tinha no máximo umas 40 horas de material, incluindo as apresentações. É emocionante a devoção dos fãs, essa gente que vai para a estrada para acompanhar os Hermanos.” Ela conta que não foi fácil conseguir a permissão para filmar. “Já conhecia esse pessoal porque fui colega deles na PUC, mas nunca foi uma coisa de frequentar casa.” Que coisa esquisita, gostar de uma banda densa, com letras nostálgicas, até depressivas. “O CD deles Bloco do Eu Sozinho foi trilha sonora de uma fase da minha vida. Me identificava com eles.”
Em 2007, os Hermanos se separaram. Em 2012, se reuniram para a turnê que Maria acompanhou. Ela confessa que é fissurada por tempo – “Fiz um filme chamado 25, escrevi o livro 38 e Meio. Minha mãe diz que nunca viu ninguém querer tanto chegar aos 40.” A data está chegando, no fim deste ano. Para ela, e foi o que pautou o documentário, ele tem um lado de despedida muito forte. “Essa coisa de dar adeus à juventude, de se separar dos amigos por que cada um tem seu caminho. Eu fui sempre ligada nas músicas deles e, aí, os próprios Hermanos começam a se distanciar. Fornecem a trilha para outra etapa da vida. Estou louca para ver como será minha vida a partir dos 40 anos.” Seu documentário sobre Domingos nasceu da gratidão que ela sente pelo diretor, que foi muito importante para sua formação. “Domingos está filmando agora com o Caio (seu marido, o ator Caio Blat). Ele queria que eu fizesse a mulher dele, mas não quis, porque Caio e eu já fizemos marido e mulher na novela (Império). Mas quem consegue dizer não pro Domingos? Ele é incisivo, persuasivo. Vou fazer um papel menor.”
Maria brinca que só filma os homens de sua vida. Domingos, os Hermanos. O próximo documentário será sobre seu pai, um homem extraordinário, que foi muito rico – “Tínhamos uma ilha em Angra!” – e perdeu tudo, menos o apetite de viver.” Um dia, ela gravou uma longa entrevista com o pai, contando tudo. “Ele me disse que, quando morresse, não devia nem ser louca de chorar por ele, que viveu como quis.” Outro filme sobre gratidão? “Não, acho que vai ser sobre paixão. Sou apaixonada por meu pai. Outro dia conversei com (a diretora) Laís Bodanzky e ela também me falou do amor dela pelo pai (o cineasta Jorge Bodanzky). Essas Electras são fogo!”, brinca. No ar, como quem não quer nada, deixa subentendido que o próximo filme será com Laís. E o que será? Maria desconversa. Prefere ‘vender’ Los Hermanos, o filme. “Podem achar que é coisa de tiete. É mais que isso. Estou inteira ali dentro”, acrescenta Maria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.