Quando Domingos abriu a etapa carioca do É Tudo Verdade de 2009, em março daquele ano, o próprio organizador do evento, Amir Labaki, apresentando o documentário de Maria Ribeiro sobre Domingos Oliveira, lembrou quanto o ator e diretor (de teatro e cinema) foi importante para sua geração. E Labaki acrescentou que a obra – felizmente ainda incompleta – de Domingos oferece o testemunho de um homem, ou de um artista que ama demais.

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Domingos ama as mulheres, o cinema e o teatro, a vida. Maria Ribeiro, mulher do ator Caio Blat, é atriz e agora também diretora. Ela apareceu em filmes de Domingos Oliveira. Foi ao ensaiar para uma peça, na deliciosa bagunça da casa dele, que Maria fez a descoberta definitiva de que representar era sua praia. Ela ama Domingos e seu documentário é a expressão desse amor. Um retrato afetivo que vem se somar hoje, mais de dois anos depois, a outro documentário sobre um grande ator brasileiro, que também está estreando nesta sexta-feira.

“Eu, Eu, Eu, José Lewgoy” retrata o vilão das chanchadas da Atlântida – e o grande carrasco desta geração, já que Lewgoy encarnava, com sua persona ameaçadora, o agente da repressão que perseguia Paulo José em “A Vida Provisória”, um filme cult de Maurício Gomes Leite. Paulo José foi o ator dos primeiros filmes de Domingos e até hoje se mantém ligado a ele. É possível construir assim pontes sobre esses documentários que pedem para ser vistos.

O próprio Domingos observa que nenhuma biografia, seja livro ou filme, consegue dar conta de uma pessoa. É sempre um recorte, um olhar sobre. Maria vinha filmando Domingos (com uma mini DV) desde 2002. Quando ele lhe perguntava o que ia fazer com aquilo, ela dizia – um curta. Em 2005, Domingos sugeriu que ela o esticasse para longa. No bate-papo com a autora, diz que o título poderia ser “O Domingos de Maria”. É bem do que trata. Um retrato afetivo, que tenta dar conta da complexidade de um homem (e artista) que é múltiplo.

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Você precisava ser jovem, em 1967, para entender o significado da explosão de “Todas as Mulheres do Mundo” – e de sua mítica estrela, Leila Diniz. Num cinema brasileiro (Novo), Domingos ia contra a corrente, falando de amor, num momento em que outros eram alegóricos, barrocos e privilegiavam a política. A dele, era a revolução do amor. Domingos depois exagerou na dose com seus filmes de baixo orçamento e alto astral, que viraram manifestos. O BOAA ia salvar o cinema brasileiro? Era ideal para Domingos, mas “Juventude”, bem escrito, com diálogos ótimos, não tem um bom roteiro. Não importa. O bom, o melhor de “Domingos”, é restituir o personagem na sua complexidade. Maria não sabe, mas ela fez outras pessoas amarem Domingos de novo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.