Maria João Pires comemora 70 anos com novo disco

A pianista luso-brasileira Maria João Pires completa nesta quarta-feira, 23, 70 anos – e o faz em meio a uma série de lançamentos que celebram a sua trajetória. O primeiro deles é um disco no qual interpreta os concertos nº 3 e nº 4 de Beethoven, com a Orquestra Sinfônica da Rádio da Suécia, sob a regência do maestro Daniel Harding. É a estreia dela em seu novo selo, Onyx, criado há alguns anos por ex-executivos da Sony e da Deutsche Grammophon e chega às lojas nesta quarta.

Maria João Pires resolveu desfazer seu contrato com a Deutsche Grammophon – um de seus últimos trabalhos para a gravadora foi um disco ao vivo ao lado do violoncelista brasileiro Antonio Meneses. E, segundo o site da Onyx, a parceria entre os dois vai continuar na nova casa: está prevista a gravação de um Concerto Tríplice de Beethoven com ele e o violinista Augustin Dumay.

A Deutsche, no entanto, também aproveita a data para lançar uma caixa com 20 CDs ao longo dos quais se espalha décadas de gravações da pianista. E o mesmo fez a Erato, que pertence à Warner, com uma caixa de 17 discos.

Maria João Pires era uma das mais requisitadas intérpretes do cenário, com uma agenda intensa de concertos. Mas, nos anos 1990, sua vida passou por uma transformação. “Estava cansada. Não queria mais viajar o mundo tocando”, explicou ela em uma entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo em 2010. “O comércio da música nada tem a ver com a arte.”

Ela então reduziu sua agenda de concertos. E criou em Belgais, Portugal, um centro musical destinado a colocar em prática suas visões sobre o fazer artístico. Em uma casa de fazenda, reuniu, de um lado, alunos de música; e, de outro, criou uma escola primária, com o objetivo de experimentar um sistema de educação artística.

Em Belgais, jovens músicos dedicavam-se tanto ao estudo de um instrumento quanto ao trabalho com a terra e o cultivo de alimentos. A ideia era, em suas palavras, “entender a música como parte da vida em comunidade, como uma forma de diálogo”.

Dificuldades financeiras e brigas políticas fizeram com que o projeto fechasse as portas em 2006. Ela então deixou Portugal, mudou-se para o Brasil e fixou-se em Salvador, na Bahia. “A carreira para mim sempre foi um peso. Nunca procurei isso. Foi a vida que levei, aceitei essa realidade. Tentei parar outras vezes, mas não consegui, por questões familiares, financeiras. Minha relação pessoal com a música não tem nada de comercial. A arte é um meio de expressão e de diálogo. A música tem um lado sublime que nos ajuda a entender e ultrapassar nossas limitações, em especial a nossa dificuldade de encontrar harmonia. Não quero entrar em grandes sonhos, mas acredito que a música pode ajudar as crianças que vão construir o mundo de amanhã”, disse em 2010.

O interessante – e talvez nisso não haja paradoxo algum – é que a redução do número de apresentações fez dela uma pianista ainda mais especial. E isso nos faz torcer para que ela, hoje radicada na Suíça, adie um pouco mais o plano de aposentadoria completa dos palcos, anunciado para este ano – ou que, ao menos, continue, em estúdio, a construir um dos legados mais ricos do piano de nossa época.

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