Multi-instrumentista, compositor, arranjador e produtor, o contrabaixista Marcus Miller é sinônimo de refinamento em tudo que faz. Mas, em particular no baixo elétrico, a coisa é mais séria: ele é hoje, aos 55 anos, possivelmente a maior expressão do instrumento no mundo.

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Sua lenda começou a ser gestada há 30 anos, quando ele foi recrutado por Miles Davis para compor, tocar e produzir o disco Tutu, um marco no jazz (que ele trouxe ao Brasil em 2011, no show Tutu Revisited). Miller tinha 25 anos. Ele e Miles fizeram diversas outras colaborações. Ganhador de 2 prêmios Grammy, Miller nasceu no Brooklyn, em Nova York, e sua turnê Renaissance desembarca na noite desta quarta-feira, 6, no Bourbon Street, às 21h30. “A presença de Miles é tão fresca na minha mente que não parece que passou tanto tempo”, afirmou o baixista, falando ao jornal O Estado de S.Paulo por telefone, de Belo Horizonte, onde estrearia sua turnê por quatro cidades brasileiras, na segunda.

O disco Renaissance tem uma versão ultrapersonalizada do clássico I’ll Be There, de Michael Jackson. É curioso, porque o parceiro mais famoso de Miller, Miles Davis, também gravou Michael Jackson (Human Nature). “Minha escolha é diferente, é uma canção que Michael gravou quando tinha 12 anos. Miles escolheu sua fase adulta, era quase outro artista. Eu adoro o período infantil de Michael Jackson. É um desafio muito grande superar o estigma de ter sido um prodígio desde a infância, muita gente não consegue fazer a transição. Primeiro, porque a voz muda. Isso não foi um problema para ele, porque sua voz nunca mudou. Para mim, ele foi um dos maiores entertainers afro-americanos da História, um dos mais talentosos e dotados. Fez tudo em alto nível. Muita gente ouve Michael cantando e pensa que ele era apenas um intuitivo, por causa da naturalidade como fazia aquilo. Mas ele estudava tudo que tinha vindo antes. Via todos os filmes de Sammy Davis Jr., Gregory Hynes.”

“Essa coisa de achar que não há trabalho no esforço do artista inato tem certa dose de injustiça. Por causa disso, muitas vezes os bateristas brasileiros não têm o crédito que merecem por seu trabalho. Sua evolução é fruto de um trabalho secular, que tem de ser respeitado.”

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Ele tem larga intimidade com o pop: produziu diversos discos para o cantor de R&B Luther Vandross, nos anos 1980 (“A única diferença com a música que eu faço é o foco; como produtor, você tem de manter o foco no cantor”, avalia). Também tem colaborações com gente como Mary J. Blige e os rappers Jay Z e Q Tip. “A parte ruim do hip-hop é que sua estrutura não deixa a música mudar muito, e eu sou devoto da improvisação”, ele diz, rindo.

Além de I’ll Be There, outras faixas do disco estarão na noitada de hoje, como Setembro, de Ivan Lins (que, no disco, tem participações do panamenho Rubén Blades e da americana Gretchen Parlato cantando). Miller fez um show na França na semana passada ao lado de Joe Satriani e de Trombone Shorty, que destaca como um dos talentos da nova geração. Também recomenda muito o novo disco do pianista Aaron Parks, Invisible Cinema, que define como excepcional e chega a comparar a Keith Jarrett. Mas também diz que alguns dos jovens que o acompanham são excepcionais – destaca o saxofonista Alex Han; seu guitarrista, Adam Agati (“Ele é diferente e está se tornando um dos mais favoritos”, avisa). E reverencia ainda o pianista de hoje à noite, Kris Bowers, que acaba de lançar um novo disco pela Blue Note.

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Miller não diz qual é a atividade que o deixa mais completo: performer, de arranjador, compositor ou produtor. “Eu faço tudo isso desde que tinha 23 anos.

Não consigo nem mesmo estabelecer a diferença. No centro, está o fato de que sou um músico. Acontece que, de uns 10 anos para cá, o negócio da música mudou. E nós começamos a viajar mais, porque ninguém mais compra os CDs, e as pessoas querem ouvir mais a música ao vivo. E confesso que estou me divertindo muito, está sendo ótimo. Se eu tivesse que escolher hoje, eu escolheria permanecer no palco”, disse. Marcus Miller vai tocar também nesta quarta-feira, 6, à noite a clarineta baixo, seu primeiro instrumento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.