Foi amor à primeira vista. Desde que leu o livro de Marçal Aquino, Marco Ricca ficou apaixonado pelo papel do protagonista de “Cabeça a Prêmio”. Ele chegou a contactar o autor, para adquirir os direitos, mas eles já haviam sido vendidos. Só que o filme nunca saiu e, mais recentemente, Marco Ricca pôde comprar a opção para adaptar “Cabeça a Prêmio”, longa que estreia hoje nos cinemas do País. No processo, já decidira que era o filme que queria fazer, em sua estreia como diretor. Em vez de fazer o papel principal, Ricca encarou o desafio de alargar sua visão.
“Embora os textos do Marçal tenham ação, não é ela que me atrai. A ação desencadeia essas possibilidades que os personagens abrem para eles e acho que o mais forte do trabalho dele é justamente a criação dos personagens. Fui ficando cada vez mais atraído por eles.” O roteiro de Cabeça foi surgindo assim, comprometido com os personagens e seus ambientes, nessa região próxima em torno de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
A ação, a paisagem, muita coisa de “Cabeça a Prêmio” revela afinidades com “Os Matadores”, o belo longa de estreia de Beto Brant – que depois dirigiu Marco Ricca em “O Invasor” e “Crime Delicado”. Mas, por mais que considere Brant um grande diretor (“Ele está sempre se reinventando, não para”), Ricca acha que a possível afinidade vem do universo de Aquino, também autor da história (um conto) de “Os Matadores”. “Na verdade, há um diferencial forte entre os filmes. Preferi desenvolver a história de Cabeça pelo viés da tragédia familiar, que é uma coisa que está no livro, mas reforcei.” O próprio Aquino participou da fase final da escrita.
Desde o início Ricca pensava nos atores e na cumplicidade que teria de estabelecer, para fazer o filme que queria. Alice Braga, sua companheira no elenco de “A Via Láctea”, de Lina Chamie – outra referência de direção para o estreante -, foi a primeira a ser sondada. O elenco foi montado a partir dela – Fúlvio Stefanini, Otávio Muller, Daniel Hendler. “Marco é meu irmão, fez esse filme bacana, com vários núcleos, como se fossem vários filmes dentro de um só. Quando ele me convidou e eu disse sim, nem sabia que se baseava numa história do Marçal (Aquino). Meu, foi muito louco. Perguntei – quando, que horas, que roupa devo usar? Foi assim que saltei no Cabeça.” Valeu a pena. A coestrela de “Eu Sou a Lenda”, com Will Smith, considera o filme que estreia hoje uma das experiências viscerais de sua carreira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.