Na pele do patriarca Lineu, de A Grande Família, Marco Nanini tem uma preocupação permanente: encontrar a dose exata de humor e seriedade em cada cena. Como um equilibrista de pratos, o ator explica que precisa manter a credibilidade do pai de família careta que tenta segurar as rédeas da casa. Mas também “surta” de vez em quando. “Demorei a achar o tom certo para o Lineu. Desde o início tivemos a preocupação de cativar o público sem apelar para o riso fácil, que descaracterizaria toda a proposta original do Vianinha”, conta Nanini – referindo-se ao autor/criador do seriado, que foi ao ar pela primeira vez na década de 70.
Ao aceitar o convite para participar de A Grande Família, em 2001, Nanini assinou um contrato de três anos com a Globo – até então, ele só havia trabalhado por obra certa. Mesmo assim, garante que não imaginava que o “remake” fosse além dos 16 episódios previstos. Diante do sucesso, porém, a emissora foi estendendo o programa para 19 episódios, um ano, dois… E agora A Grande Família engata seu terceiro ano com uma generosa audiência de 40 pontos, superior à alcançada nas temporadas anteriores. “Sabia que tínhamos um produto de qualidade nas mãos. Mas não sou bom em previsões”, admite o ator, ressaltando, contudo, que está satisfeito em continuar com o seriado.
Aos 55 anos de idade e 37 de carreira, Marco Nanini não se lembra de ter feito um único personagem dramático na tevê. E não se queixa disso. “A boa comédia oculta o drama e exerce um tipo de crítica que não cabe em outros gêneros”, compara. De fato, o ator é sempre lembrado por suas performances em programas de humor como TV Pirata e A Comédia da Vida Privada, e por novelas cômicas como Um Sonho a mais, de Daniel Más, e Brega & Chique, de Cassiano Gabus Mendes. “Fazer rir é algo que se reaprende a cada trabalho. Por isso, não me canso de comédias”, diz o ator que, ironicamente, revela que nunca foi bom em contar piadas.
P – A Grande Família chegou ao terceiro ano com 40 pontos de audiência. A que você credita esse sucesso?
R – O seriado reúne uma equipe afinada de profissionais, comediantes, gente de teatro, cinema e televisão. Nosso objetivo sempre foi fazer um programa redondo, bem acabado. E isso foi caindo no gosto do povo. Os personagens, as situações familiares, as histórias… É um universo que transcende o subúrbio do Rio de Janeiro. É uma coisa de célula familiar mesmo, de gente que mora junto… Tenho a impressão de que o segredo está nessa identificação com o pé de realidade reproduzida na tela. Uma realidade com humor e até com coisas patéticas e tristes. Essa realidade tocou o telespectador.
P – Você acredita que o fato de A Grande Família fazer humor sem apelação contribuiu para o sucesso a longo prazo…
R – Pode ser. Mas este era um objetivo nosso. Os personagens da primeira versão já eram profundos. O Vianinha tinha uma dramaturgia muito forte e o Cláudio Paiva – que assina esta versão – soube preservar e, ao mesmo tempo, atualizar a obra. Muitas vezes a gente sacrifica o humor mais fácil para que a credibilidade não seja afetada. E o humor não se perde. É somente um cuidado de não descambar pelo riso. Para o conflito ser mais importante e para a história ser mais bem contada. Essa é uma preocupação que todos nós temos.
P – Aos 37 anos de carreira, tem algum personagem em particular que ainda queira interpretar na televisão?
R – Gosto muito de alternar humor e drama. Mas nunca tive vontade de fazer este ou aquele personagem. Prefiro ver o que pinta e só me interesso por um papel quando sou convidado a fazê-lo. Um bom exemplo foi Andando nas Nuvens. Sempre achei cansativo fazer novela, mas me diverti muito com essa porque me encantei com o personagem, que era um desmemoriado divertidíssimo. Se o ator fica arquitetando muito, perde a disposição para as boas oportunidades que aparecem.
P – Fora da tevê, você se considera bem-humorado?
R – Bom, eu procuro ser bem-humorado. Mas nem sempre consigo. Acho que já fui mais bem-humorado do que sou hoje em dia. Mesmo quando trabalhava em banco, procurava nunca perder o bom humor. Mas, naquela época, eu tinha 17 anos. Tinha a vida inteira pela frente. O mais engraçado é que nunca pensei em fazer humor. Quando comecei a me interessar pelo teatro, sonhava em interpretar papéis trágicos, dramáticos… De humor, nunca! Comecei por acaso e não sabia que era tão bom. Acho que tinha medo de não saber fazer. Na verdade, não sabia mesmo. Aprendi aos poucos. Ou melhor, ainda estou aprendendo…