Apesar do aparente glamour que é ser autor da Globo, Marcílio Moraes não via tanta graça assim. Em 20 anos na emissora, Marcílio trabalhou como autor assistente em novelas como Roque Santeiro, Roda de Fogo e Mandala e minisséries como As Noivas de Copacabana, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Chiquinha Gonzaga. Só mesmo em 1993, com a ingênua novela das seis Sonho Meu, foi o principal autor numa produção.
Agora, na Record, tem a chance de ser novamente o principal responsável pelo texto, no caso, de Essas Mulheres. Marcílio não disfarça a empolgação por enfrentar a antiga emissora. Diz, inclusive, que foi exatamente essa possibilidade de "mudar de time" o que mais pesou na decisão de aceitar o convite para adaptar para a tevê os romances Senhora, Diva e Lucíola. "Na Globo, é como se o autor pegasse o jogo ganhando de três a zero, com 10 minutos para terminar. Ele só precisa manter o placar", compara.
Mas na Record também não é só chegar e conquistar. Marcílio tinha de manter a audiência arduamente conquistada por A Escrava Isaura. E no início não foi fácil. A Escrava entregou o horário com média de 15 pontos de audiência e a estréia da trama de Marcílio marcou oito. Agora, a novela vem conseguindo se firmar em torno dos 10 pontos. Mas o autor não tem pressa. "O marketing em torno de A Escrava Isaura era enorme. Além disso, nossas personagens são mais ambíguas. Tínhamos de mostrar qualidade, ganhar prestígio e só então priorizar a audiência", raciocina Marcílio.
P – Qual a diferença entre trabalhar na Globo e na Record?
R – A situação é completamente diferente. Fazer fora da Globo é muito mais interessante, porque é extremamente difícil competir com uma emissora que tem uma posição sólida, décadas de experiência, investimento e ainda o hábito do espectador. Na Globo, a grande expectativa é que você simplesmente não perca. Fora da Globo, a expectativa é que você ganhe. Agora mesmo estamos conseguindo um Ibope entre 10 e 11 pontos, sendo que começamos com oito. Na Globo isso não seria nada. Fora de lá, um ponto ou dois fazem muita diferença.
P – A briga pela audiência instiga você?
R – Eu acompanho diariamente, a emissora me manda o resumo minuto a minuto. Mas não parto desta preocupação. Minha primeira preocupação é com a qualidade do trabalho, para conquistar prestígio para a novela. Nas primeiras semanas, conseguimos boas críticas, as pessoas dizem que é uma novela sofisticada. Este padrão de qualidade nós conquistamos. Acho que agora estamos num segundo momento, que é conseguir o salto de audiência.
P – Como você encarou a obrigação de manter os bons resultados de A Escrava Isaura?
R – Foi uma responsabilidade grande porque A Escrava Isaura implantou muito bem o núcleo. Acho que a segunda experiência é até mais fundamental, porque significa a consolidação. Às vezes, uma primeira experiência dá certo pela curiosidade, as pessoas se entusiasmam. É como no "show business": o segundo dia é que é o complicado. Além disso, A Escrava Isaura tinha muito "marketing", um nome conhecido, vinha com uma carga grande. Nossa história é diferente, tem personagens mais complexas, mais ambíguas.