Foi quando escreveu a crônica As Verdades Que Elas Não Dizem (homenagem ao texto As Mentiras Que os Homens Contam, do ídolo Luis Fernando Verissimo) que Marcelo Rubens Paiva se sentiu ridículo. “Isso porque eu tinha muitas crônicas com muitos clichês de gênero. Resolvi então repensar todas elas, reescrever, respeitar o lugar de fala, mostrar que as mulheres e os homens, em suas neuroses, não dizem verdades, que a dinâmica do casal é entre dois dissimulados, e que histeria, que vem de útero, pode estar num homem”, disse ele, apresentando o resultado: O Homem Ridículo (Tordesilhas), livro que será lançado nesta terça, 2, na Mercearia São Pedro.

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São textos (vários publicados no Caderno 2, no qual Marcelo é colunista) que traçam divertido retrato dos afetos contemporâneos. Histórias que ele vivenciou ou ouviu de amigos e transformou em contos. O próprio Marcelo conta que, em alguns textos, fez modificações providenciais. “Mudei uma frase numa crônica: ‘Ia a um japa em que sabia os times para que torciam os japas dele’. Ora, por que não ‘funcionários’? Por que chamar descendentes de oriental de ‘japa’?”

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Questionado sobre até que ponto a tecnologia tornou mais evidente a distância entre homens e mulheres, Marcelo não titubeia: “Acho que, porque abriu espaço para o lugar de fala, democratizou o meio. A voz das mulheres agora é ouvida, quando antes, por conta dos disparates sociais empresariais, vivíamos num mundo com predominância do discurso masculino. Aquele movimento Agora Que São Elas, em que cronistas homens do Brasil cederam seus espaços a mulheres, rompeu a barragem. Hoje, o anormal é uma mesa-redonda de futebol ou um time de colunistas sem mulheres”.

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As redes sociais, aliás, modificaram profundamente as relações sociais e amorosas. Amos Oz, escritor israelense falecido no início do ano, dizia que as pessoas passaram a exigir respostas simples para questões complexas após virarem reféns das redes. “Passaram a raciocinar como a linguagem digital: binária”, completa Marcelo. “O talvez saiu do repertório. Ou é sim ou não. A polarização política é a prova. Como posso exigir a autocrítica de um, se o adversário não fez? O debate está pobre.”

Por conta disso, o colunista do C2 revela-se desconfiado – pessimista até. “Estamos à beira do caos ambiental e econômico numa sociedade com poucos bilionários e muitos empobrecidos. O que fazer com o plástico nos oceanos? Viramos um lixão. E, no Brasil, é escandaloso o descaso. Rios morrendo, descontrole urbanístico…”

Resta a escrita como consolo. “Literatura é desabafo. Não propõe, disseca o problema. É a anatomia da alma. Acho que mostrar o ridículo do homem é um caminho. Nome, aliás, que veio de uma conversa com meu vizinho Reinaldo Moraes.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.