São Paulo – Dois ídolos santistas (Robinho e Diego) escalados previamente para entregar o prêmio para uma banda santista (Charlie Brown JR), enquanto o público ainda votava para escolher o vencedor? Isso sem contar que a mesma banda santista estrelava o comercial de refrigerante que patrocinava a noitada – o que atualiza notório filósofo gaúcho: “A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante”.
Mesmo um santista fanático não gosta de juiz comprado para apitar seu clássico. Com um certo cheiro de marmelada no ar, a festa do Video Music Brasil, terça à noite, em São Paulo, celebrou a popularidade maciça do grupo Charlie Brown Jr. (prêmio de melhor videoclipe, segundo a audiência) e o hip hop de qualidade de Marcelo D2 (grande vencedor da noite, prêmios de melhor videoclipe do ano, melhor videoclipe de rap e melhor direção de videoclipe).
Ambos os prêmios são justos. Nenhum grupo brasileiro é tão amado hoje pelo público adolescente quanto o Charlie Brown. E ninguém fez um disco tão bom este ano quanto o Marcelo D2, À Procura da Batida Perfeita. Mas houve um certo afobamento da indústria, que desrespeitou o voto pela internet da escolha da audiência (valia votar até o penúltimo bloco do programa, segundo as regras, e havia 21 concorrentes).
Ressalvas
Outros prêmios da noite são mais contestáveis. Sem questionar o bom trabalho de Gilberto Gil no disco Kaya N?Gandaya, mas um álbum de covers de Bob Marley não deveria ser considerado entre os concorrentes ao melhor videoclipe de MPB. Pois não é que Gil levou o prêmio, pelo clipe de animação de Three Little Birds?
Independente
E é no mínimo um deslize ético tornar bicampeão o apresentador da emissora João Gordo (que levou o novo prêmio melhor videoclipe independente com seu grupo Ratos de Porão, pela canção Próximo Alvo, do disco Onisciente Coletivo). Isso não contribui em nada para a emergência da cena alternativa. Ao contrário, desestimula.
Quanto à parte cosmética da festa, é preciso ressaltar os avanços. A apresentadora Fernanda Lima estava infinitamente mais segura do que no ano passado, e no único momento em que foi possível compará-la com sua perseguidora, Daniela Cicarelli, ficou claro que Miss Lima é muito superior.
O som no Anhembi, dolby surround, deu um banho no velho Credicard Hall. Os shows foram profissionalíssimos, tudo funcionou – destaque para o ataque de cinco guitarras de Frejat e o hardcore honesto de Pitty.
Podiam ter evitado um pouco as piadinhas misóginas do apresentador Marco Bianchi. Não dá para deixar passar uma coisa como “mulher interesseira é que nem piscina; o tempo que a gente passa dentro dela não vale o custo de manutenção”.