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Maquiando os números da violência policial

O Brasil é o país das firulas jurídicas e estas, às vezes, servem para mascarar crimes. É o que denunciam os cineastas Natasha Neri e Lula Carvalho em Auto de Resistência, contundente retrato da violência policial no Rio de Janeiro. O título refere-se ao limbo jurídico no qual caem os números da violência policial carioca. São crimes de morte da polícia, não contabilizados sob alegação de que foram reações em legítima defesa.

Com imagens impactantes, o filme revela que não é bem assim. Mostra casos que foram para o noticiário, como o da “chacina de Costa Barros”, em que cinco rapazes foram confundidos com ladrões de cargas. Noutro episódio, uma gravação de celular flagra um policial “plantando” a arma na mão de um jovem já morto para simular que ele havia atirado contra a tropa.

São gravadas cenas com as mães inconsoláveis pelos filhos assassinados. E também algumas sequências em tribunais, quando policiais e seus advogados tentam se defender das acusações. Naquele caso em que a arma foi colocada na mão da vítima, o policial diz que o fez porque o revólver apresentava defeito e poderia disparar, ferindo alguém. Caso de rir, não fosse a tragédia.

O filme faz a prospecção dos “alvos preferenciais” dessa violência disfarçada e, como seria de esperar, os encontra entre a população pobre e negra dos subúrbios e morros. A pretexto de combater o tráfico, bairros inteiros da cidade e suas populações são criminalizados. Todos são suspeitos até segunda ordem e atira-se antes de se conversar. Os “autos de resistência” servem para que grande parte dos processos seja arquivada. Este filme tão necessário não se mostra nunca banal. Natasha é socióloga, com mestrado em violência urbana. Lula é um dos grandes fotógrafos do cinema brasileiro e maneja sua câmera com desenvoltura e precisão.

Auto de Resistência

(Brasil/2018, 104 min.) Dir. de Natasha Neri, Lula Carvalho.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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