Traduzido a partir da versão do aventureiro e diplomata sir Richard Burton, O Jardim Perfumado, de Xeque Nefzani (tradução de Alexandre Raposo, Editora Record, 280 páginas) revela em seus enredos de surpreendente franqueza toda a sensualidade do mundo árabe, num delicioso manual de usos e costumes sexuais. A edição tem projeto gráfico de luxo.
O Jardim Perfumado pode ser considerado o equivalente árabe para o Kama Sutra indiano, de Vatsyayana. Foi escrito no início do século XVI, que revela curiosidades e costumes sexuais da África islâmica medieval.
Esta versão se baseia na tradução clássica da obra, feita por sir Richard Burton, em 1886. Devido aos puritanismos da sociedade vitoriana da época, a versão de Burton foi publicada anonimamente através da fictícia Kama Shastra Society. É interessante notar que Burton não traduziu essa edição de 1886 direto do árabe, mas sim de uma edição francesa. Esta sim, foi traduzida direto do árabe antes de 1850, por um desconhecido chamado Staff Officer, integrante da armada francesa na Algéria.
Nos seus últimos dias de vida, Burton (que morreu em 1890) estava trabalhando em uma tradução original do árabe que substituísse a versão de 1886. Sua intenção era que essa nova tradução fosse tão perfeita e inspirada que superaria a perfeição de sua versão para As Mil e uma Noites. Essa nova versão seria realmente completa, já que a tradução francesa deixou de lado um capítulo que discutia a homossexualidade e contaria com anotações feitas por Burton, onde revelaria questões antropológicas aprendidas durante suas inúmeras viagens à Índia e ao Oriente Médio. Burton morreu um pouco antes de ter a versão pronta para publicação e sua esposa, depois de analisar os manuscritos, ficou chocada com os comentários francos e liberais de Burton em suas anotações e as queimou.
Devido às inúmeras diferenças entre a nossa sociedade e a sociedade medieval árabe, muitos dos hábitos e práticas narrados em O Jardim Perfumado são estranhos, e até bizarros, para nós. Ao mesmo tempo são essas diferenças culturais que tornam o livro tão fascinante – uma obra escrita há quase 500 anos, a respeito de uma cultura tão diferente da ocidental, e que ainda hoje consegue nos mostrar que existe mais de um caminho para o comportamento e conduta de uma sociedade.
Pode-se presumir que este livro, sem ser exatamente uma compilação, não se deve inteiramente ao gênio do Xeque Nefzani, e que várias partes podem ter sido tomadas de empréstimo de autores árabes e indianos. Contudo, a partir da análise do livro, fica evidente que o Xeque Nefzani era um homem de grande erudição. Devido ao costume árabe de juntar o primeiro nome ao de sua localidade natal, presume-se que o autor nasceu em Nefzana, cidade situada na Tunísia.