Adeus

Manoel de Barros é lembrado com carinho por escritores

O poeta Manoel de Barros, morto nesta quinta-feira, dia 13, aos 97 anos, foi lembrado com carinho por amigos, escritores e admiradores. Confira:

Mia Couto, escritor moçambicano

“Mais do que um poeta, foi um mestre na aprendizagem de um outro olhar, um olhar mais próximo das coisas essenciais, essas que só entendemos por via da infância. Por meio da poesia ele re-arrumou o mundo e ensinou-nos o valor das coisas que não parecem ter préstimo. Esse préstimo pode ser o simples facto de se ser pequeno, desvalido e instigador de beleza. A sua palavra foi uma espécie de microscópio para vermos o que nos ensinaram a desconsiderar. Por tudo isso, a sua vida e o seu nome não podem ser ditos no pretérito.”

Ignácio de Loyola Brandão, escritor

“Quantos sabem o que é o Idioleto Manoelês Archaico?

É o dialeto que os idiotas usam para falar com as paredes e as moscas.

Você conhece palavra desutilidade? E criançamento?

O que Manoel quer dizer quando fala: Prefiro as máquinas que servem para não funcionar.

Ou: Perder o nada é um empobrecimento.

Encantos, foi o que Manoel de Barros fez a vida inteira.

Nas sua simplicidade, singeleza, despojamento há mais temas do que tratados de filosofia.

Quanto volumes podemos escrever sobre esta afirmação: Tudo que não invento é falso.

E esta, então: As palavras me escondem sem cuidado.

Ah, Manoel, sem você vai ficar tudo tão rasteiro. Quem escreverá sobre ignoranças ou sobre o Nada com o teu jeito?”

Armando Freitas Filho, poeta

“Acompanhei a obra dele a partir dos anos 1960 até 1980. De Face imóvel (1942) ao Compêndio para uso dos pássaros de 1960 a mudança foi grande. Basta ver os títulos dos livros citados. A meu ver sua poesia sofreu essa metamorfose quando assimilou uma escrita “roseana”, como se ele escrevesse a partir dos rascunhos de Guimarães Rosa. O resultado foi bom e até surpreendente em Gramática expositiva do chão (1966) e Arranjos para assobio (1980). Com o andar do tempo o que foi surpresa ficou maquinal, maneirismo de frases, mais ou menos felizes.”

Ondjaki, escritor angolano

“Não há palavras de dizer esse nosso dikota (mais-velho) Manoel. Uma vez chamaram-lhe Manoel do Barro. Manoel-em-Barros. Hoje eu queria sonhar um post-scriptum para ele: era quase assim: ‘talvez ao poeta faça bem / desabrochar-se / tanto quanto ele / se nos acendeu nos vagalumes’.”

Wesley Peres, escritor e autor da tese Formações do Inconsciente e Formações

Poética Manoelinas: Uma Leitura Psicanalítica Acerca da Subjetividade e da Alteridade na Obra de Manoel de Barros (Universidade Federal de Goiás)

“Manoel poetizou a natureza arrancando-a de si, usou a linguagem para executar tal separação. Alem disso, deu primazia ao sensório sobre a razão, utilizando a razão e o sensório para afirmar tal primazia. Mas, eis, que sua obra deu um salto, ao escrever versos como: “o perfume vermelho me pensa”. Aí sua poética rompeu os limites entre o sensorial e o conceitual, entre percepção e pensamento, de modo a fazer a matéria pensar e o pensamento encarnar-se em coisas do mundo. Um projeto e tanto, que só não digo irrealizável porque se realizou”.

Socorro Acioli, escritora

“O Manoel de Barros faz parte da minha santíssima trindade dos poetas brasileiros, junto com Adélia Prado e João Cabral. Eu acho que poeta é ou não é. E ele era. Uma poesia sem pose, extensão da vida que ele vivia.”

Pascoal Soto, diretor editorial da Leya

“Querido Manoel: Tentei me preparar para esse momento. Achei que, chegada a hora, estaria suficientemente forte para suportar a dor de sua ausência… Enganei-me… Descanse em paz, Manoel. Abraço a Bernardo-passarinho. Agora, tem aqui um deserto em nós.”