Mais uma vez, Camila Morgado dá vida a uma personagem forte na TV

Para uma atriz que, há três anos, podia ser vista apenas nos palcos de teatro, pode-se afirmar que a estréia de Camila Morgado na televisão foi impactante. Heroína em 2003, como a Manuela na minissérie A Casa da Sete Mulheres, e em 2004 no filme Olga,  onde interpretou a personagem-título Olga Benário , a atriz se destacou como vilã no ano passado na pele da malvada May, de América. E agora a atriz vem com um papel polêmico na minissérie JK, da Globo. Sua atual personagem, a jornalista Ana Rosemberg, vai se apaixonar por Marisa, personagem de Letícia Sabatella na trama. ?A Ana vai trazer essa questão da homossexualidade, que era um verdadeiro tabu na época?, adianta.

Inspirada nas figuras de Clarice Lispector e Samuel Wainer, a fictícia Ana Rosemberg é uma jornalista paulista judia, que trabalha no jornal de Assis Chateaubriand e tem a importante missão de contextualizar de maneira didática o momento político da época ao telespectador. Por isso, a personagem de Camila Morgado não ficará restrita à polêmica do homossexualismo. Muito além de sua paixão por Marisa, a jornalista irá se transformar no principal elo entre o presidente Juscelino Kubitschek – personagem de José Wilker – e a imprensa, no decorrer da trama de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Além disso, Ana também repercutirá a questão da mudança da imagem da mulher no cenário social. ?A Ana está à frente das mulheres da época. Ela é moderna, trabalha, é independente e tem uma bagagem cultural grande?, valoriza.

Embora à vontade na pele de Ana, não foi nada fácil para a atriz preparar-se para o papel. Camila precisou ler muitos livros e ver filmes para compreender bem a função do jornalista político e da mulher na sociedade brasileira dos anos 50. Além da personagem, a atriz também necessitou conhecer melhor a maneira como as pessoas se comportavam à época e como se configurava a figura da mulher em um círculo tipicamente masculino, como eram as redações dos jornais no período. ?Umas das coisas que estudei é que o jornalista político tem de transitar em todos os partidos. Ele age como um investigador?, explica.

Sem levantar bandeiras ou gritar hinos até o atual momento da minissérie, a personagem de Camila reserva ainda ao público outra surpresa. Apesar da imparcialidade característica da profissão, a jornalista deve simpatizar com a ala dos comunistas no desenrolar da trama. Como sua personagem se transforma na principal responsável pela cobertura da trajetória do presidente, a Ana vai acabar envolvida com os ideais de Juscelino. Isso criará na personagem um admiração pelas medidas propostas por ele como, por exemplo, a criação de Brasília, que será detalhadamente reportada aos jornais pela jovem jornalista. ?A Ana sabe o Hino da Internacional Comunista. Ela torce muito pelo JK e descobre que o Lacerda está propondo um golpe?, resume.

Convidada pela autora Maria Adelaide Amaral, Camila teve de correr contra o tempo para participar de JK. Isso porque a atriz ainda estava gravando América quando recebeu o convite para viver Ana Rosemberg. Mesmo assim, aceitou na hora. ?Primeiro eu li alguns livros ligados ao tema como, por exemplo, o da construção de Brasília. Mas não tinha tempo de ler tudo?, recorda. Apesar de todo o estudo, Camila não quer acompanhar as primeiras cenas de Ana na minissérie. De acordo com a atriz, se ver na tevê a faz sofrer porque ela é muito dura consigo mesma. ?Para ficar mais solta, prefiro não assistir o começo?, afirma. Nos próximos capítulos, sua personagem vai passar por uma verdadeira transformação. Ao revelar seu amor a Marisa, Ana vai sofrer a dor da rejeição. Nesse momento, a atriz protagonizará uma cena forte, na qual cortará os cabelos de verdade.

Sintonia afiada

Desde 2003, quando estreou na tevê como a Manuela de A Casa das Sete Mulheres, Camila vem emendando um trabalho no outro e conquistando o público com boas atuações, inclusive no cinema, como em Olga. Embora feliz com o momento, a atriz sente saudades do teatro. Afastada dos palcos há mais de três anos, ela quer estrelar uma peça ainda este ano. ?Talvez eu faça uma comédia, até para que o público não crie em mim esse estigma de papéis dramáticos?, avalia.

Experiente no teatro, a atriz ainda não possui tanta bagagem na televisão e no cinema. Mesmo assim, Camila afirma que a construção dos personagens é basicamente a mesma dos palcos. Para ela, a grande diferença nos três meios está entre o texto e o ator, no que ela chama de ?subtexto?. ?Tudo depende da maneira com que cada ator imprime o trabalho. O teatro é o único meio em que o ator é o dono da situação?, destaca.

Totalmente envolvida com o tema vivido por sua personagem em JK, Camila vê semelhanças entre o contexto político vivido por Ana Rosemberg e pela protagonista de Olga. Para a atriz, em ambos os períodos, as pessoas tinham uma crença maior em seus ideais e eram mais éticas. Ao ligar o passado ao momento político de hoje, Camila acredita que parte desse sentimento se perdeu. ?Tudo virou meio que uma máfia italiana?, compara.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo