O que era uma novidade, porém, tornou-se bastante retrógrada, a menos que sejam considerados transgressivos o uso de palavrões e de temática sexual. São coisas que há tempos podem ser vistas com facilidade em canais a cabo e mesmo em tevês abertas. Algumas das principais atrações da emissora também são consideradas bastante corriqueiras, como o bem-sucedido Beija Sapo, programa de encontros comandado pela apresentadora Daniella Cicarelli. Nem suas versões homossexuais podem ser consideradas surpresas. São idênticas ao velho Namoro na TV, apenas com participantes de diferente orientação sexual.
A grande novidade da MTV foi associar a música a imagens, uma invenção do ex-integrante do grupo The Monkees Michael Nesmith. Os clipes foram uma grande descoberta em termos de marketing, mas também eram um novo formato para a produção televisiva e, principalmente, uma forma original de divulgar música, em filmetes que podiam incluir experimentos de gravação e de animação, além da edição mais ágil que a tevê já tinha visto.
Vinte anos depois, ver um clipe já era tão rotineiro quanto ouvir música no rádio. E a internet já tinha se tornado uma forma de apresentar os clipes mais rápida e eficiente do que a tevê. Novas atrações tiveram de tomar o lugar da sucessão de clipes despejados pela antiga MTV. Daí surgiram uma infinidade de programas que passaram a tratar não apenas de música, mas de tudo aquilo que os responsáveis pela emissora consideravam parte do ?universo jovem?. Só no Brasil, a MTV criou mais de 100 diferentes produções, numa busca permanente por novas soluções.
Curiosamente, porém, os programas de formato mais tradicional estão entre os preferidos dos telespectadores. Além do citado Beija Sapo, o divertido Rock Gol é um humorístico de raízes radiofônicas e Penélope Nova defende com garbo o velhíssimo consultório sentimental em Ponto Pê. Finalmente nada menos roqueiro do que um especial ?Sandy & Júnior?. Mas mesmo o rock já deixou de ser a vanguarda da música popular, atropelado pelas carrapetas do DJs mundo afora. Sequer o rap, outrora música de gueto, deixou de ser cooptado pela indústria fonográfica e absorvido pelo mercado musical. O que era inovação virou segmento.