Maestro José Serebrier fala sobre a turnê no Brasil

Um descendente de poloneses nascido no Uruguai, formado nos Estados Unidos, fascinado pela vanguarda europeia e apaixonado pelo repertório russo. Na música, a globalização é fenômeno antigo – e o maestro José Serebrier a encarna, brinca, “sem grandes complicações”. No final de abril, ele desembarca em São Paulo para abrir, com a Sinfônica Nacional Russa, a temporada da Sociedade de Cultura Artística. Antes, porém, maestro e orquestra chegam ao País em um disco recém-lançado em edição nacional, homenagem ao violoncelista Mstislav Rostropovich, com obras de autores como Rachmaninoff, Shostakovich e Glazunov, de quem acaba de lançar a gravação das sinfonias e concertos.

O álbum foi gravado há dois anos em Moscou e tem como destaque a peça Os Sinos, de Rachmaninoff, com um belo time de solistas que inclui o barítono Sergei Leiferkus. Serebrier tem uma discografia que ultrapassa a centena de álbuns – e não são poucos aqueles que o criticam pela suposta falta de critérios na escolha dos projetos em que se envolve. Conversando com o Estado, ele rechaça as críticas e defende uma relação especial com a música russa. “Já fiz de tudo um pouco, você tem razão, mas o repertório russo é aquele que mais mexe comigo, com minhas raízes, de maneira muito pessoal”, diz.

Serebrier nasceu no Uruguai de pai russo e mãe polonesa. A mistura de culturas não dificultou a busca de uma identidade – que ele enxerga na música. Serebrier se diz um “homem de sorte” por ter nascido na América Latina, assim como celebra a possibilidade que teve de, logo cedo em sua vida artística, viajar para os Estados Unidos. A mudança se deu nos anos 50, quando foi estudar com Leopold Stokowski. O mestre reconhecia nele a capacidade de encontrar o equilíbrio entre os diferentes naipes da orquestra. E ele se relembra daqueles anos como um período de efervescência. “Tudo era muito fascinante. Além de trabalhar com lendas como Stokowski, eu via minhas obras como compositor sendo interpretadas e isso gerava um desejo de criar e compartilhar cada vez mais.”

Stokowski fez parte de uma geração de maestros que tinha cuidado especial com a nova música, encomendando obras a jovens compositores e a nomes consagrados – outro exemplo do período é o trabalho de Sergei Koussevitsky, mentor de Leonard Bernstein. Em que medida essa característica geracional o influenciou a não abandonar a carreira de compositor e se limitar à regência? “Não estou certo. Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que estes maestros tinham enorme dificuldade em emplacar novas obras. Stokowski foi expulso de Filadélfia justamente pela insistência em programar estreias. Eu me lembro que uma obra minha, no começo dos anos 60, foi tocada meia dúzia de vezes e isso foi suficiente para fazer de mim um dos autores novos mais tocados nos EUA. E isso porque tocaram a peça apenas seis vezes! A divulgação era algo difícil. O que me motivou a continuar escrevendo foi o impacto que a audição de obras novas provocava em mim. Eu me lembro de ouvir, ainda no Uruguai, uma peça do Edgar Varèses e pensar: uau, que linguagem nova, interessante! Imediatamente eu soube que queria compartilhar isso com as plateias, seja tocando outros autores, seja investigando novas possibilidades com as minhas obras.” As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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