Caminhar pelo bairro da Pompeia, na zona oeste de São Paulo, ainda que em um dia nublado e chuvoso, tem um peso muito grande para Oswaldo Vecchione, baixista e vocalista da banda Made in Brazil.
Afinal, foi lá que ele e o irmão Celso Vecchione (guitarra) juntaram alguns colegas de escola e fundaram, em 1967, uma das bandas mais importantes do rock nacional. “Passa um filme de tudo que vivemos até aqui, sabe? Manter um grupo em plena atividade durante este tempo é algo para ser estudado. Quantas pessoas perdemos? Quantos músicos nos deixaram?”, diz Oswaldo com os olhos cheios de lágrimas. Há cinco décadas na estrada, os paulistanos do Made in Brazil vão celebrar o aniversário do grupo com duas apresentações no Sesc Pompeia nos dias 20 e 21 de janeiro. “Não poderia deixar de ser aqui na Pompeia, nosso berço, onde tudo começou”, complementa.
Com 50 anos de carreira, o Made in Brazil já passou por inúmeras formações oficiais. Segundo dados do Guiness World, o livro dos recordes, foram, ao todo, 203. A banda, inclusive, já contou com a participação de 126 músicos diferentes. Hoje, entretanto, ela é basicamente formada por Oswaldo Vecchione (voz e baixo); Celso Vecchione (guitarra); Rick Vecchione, filho de Oswaldo (bateria) e Guilherme Ziggy (guitarra e violão). Wanderley Issa (teclado); Ivani Janes Venâncio (voz) e Rubens Nardo (voz) complementam a parte instrumental auxiliar nos shows. “Essa mescla de experiência e juventude é fundamental para a sonoridade da banda. O Ziggy, por exemplo, é um cara que gosta muito de blues, uma sonoridade que nos atrai bastante e somos fãs de carteirinha, mas ele também agrega coisas novas”, afirma Oswaldo.
Para as duas apresentações no Sesc Pompeia, o grupo receberá no palco importantes nomes da música. A lista inclui Serguei, Tony Campello, Simbas e Luiz Carlini, virtuoso guitarrista do Tutti Frutti, banda de Rita Lee. “O Carlini é crucial para a história do Made in Brazil e especificamente para o rock nacional. Ele também nasceu aqui na Pompeia. Muita gente pensa que ele integrou o grupo, mas a verdade é que o Carlini deu uma contribuição musical enorme para a gente, sabe?”, conclui Oswaldo.
Em 1969, foram os primeiros a usar maquiagem artística em shows, pintando o rosto e partes do corpo nas performances ao vivo. Segundo Oswaldo, a maquiagem dos Secos & Molhados foi inspirada no primeiro visual do Made in Brazil. A arte, digamos, “extravagante”, teve como referência a fase psicodélica do artista plástico Antonio Peticov, que abusava da tinta acrílica e da luz negra.
História de peso
Com 14 álbuns de estúdio, o Made in Brazil começou a ganhar destaque na história do rock em 1974, quando lançou seu primeiro disco, o homônimo Made in Brazil. Conhecido como “CD da banana” (referência à imagem da capa), o trabalho apresenta o primeiro grande hit do grupo: Anjo da Guarda.
Em 1976, já com Percy Weiss nos vocais, veio Jack, o Estripador. A música-título Jack, o Estripador, além das canções Os Bons Tempos Voltaram e Vou Te Virar de Ponta Cabeça, emplacaram nas rádios e colocaram o grupo em outro patamar. “Fizemos uma curadoria bacana para selecionar o repertório do show. Quando você está há 50 anos na estrada, fica mais difícil escolher as canções. O quesito renovação entra com força. Foi preciso rejuvenescer o público que assistia às nossas apresentações e isso está atrelado ao repertório. Avós, pais e filhos passaram a vir juntos aos shows. Isso é muito bacana, até porque eu toco com meu filho na banda há três anos”, lembra Oswaldo.
Em 1978, entretanto, eles lançam o maior sucesso da carreira, Pauliceia Desvairada. Desta vez, sem Celso Vecchione, afastado por motivos de saúde. O disco, que faz uma homenagem ao poeta Mario de Andrade, teve, entre os principais sucessos, Gasolina, Uma Banda Made in Brazil e a faixa-título Pauliceia Desvairada.
No ano seguinte, em 1979, eles fizeram dois shows homéricos no extinto Playcenter, no festival Rock & Jeans, em São Paulo. A banda se apresentou ao lado da ala de ritmistas da Mocidade Alegre, algo, até então, surpreendente para um grupo de rock. “Eu fico feliz porque o Made não está se arrastando. O Made está vivo. Quem for ver o show do Made, vai ver uma banda afiada, de primeira linha do rock nacional. A gente não é aquela banda que parou e, diante de uma data comemorativa, se juntou para tocar. Somos diferentes”, acrescenta Oswaldo.
MADE IN BRAZIL
Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93. Tel.: 3871-7700. 6ª (20) e Sáb (21), às 21h30. R$ 30
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.