Tão expressivas são as Ciências Médicas que a Medicina pode ser comparada a uma arvore frondosa, dentre as mais gigantes e vetustas, com todas as características de vida que, nelas ou com elas se renova e se transforma. Como bem conceitua o nosso grande Poeta Olavo Bilac ?As Velhas arvores, mais belas do que as arvores Moças, mais amigas, tanto mais belas quanto mais antigas… O Homem, a fera e o inseto, à sombra delas, vivem livres de fomes e de fadigas?.
Eis um símbolo da Medicina: Árvore gigantesca, multimilenar, cuja origem se confunde com a origem do próprio ser humano. Sob sua fronde, incólume, no decorrer da História, que é a História da própria humanidade, o milagre da vida se renova e se transforma continuamente. À sua sombra encontram refúgio todos quantos necessitam de amparo.
A medicina deve ser e, de fato o é, a profissão do Amor e da Misericórdia. Embora constantemente violada na sua sacralidade, a essência da sua razão de ser, não é alterada. Alguns ?arranhões?, superficiais, não lhe alteram a vitalidade, nem arrefecem a sua prodigalidade. Mesmo porque, eventuais violações praticadas, isoladamente, ou em pequenas comunidades, não abalam a sólida e invulnerável potencialidade da Medicina em sua integralidade.
Contudo, essas violações condicionam conceitos como os que foram enunciados pelo inolvidável Miguel Couto:
?A medicina é a mais nobre e a mais útil profissão; se às vezes decai, é que os seus próprios cultores a enfraquecem com as intérminas rixas do amor próprio. Alguns sabichosos e infalíveis, na medida do seu índice bovárico (presunção de grandeza própria, mas ilusória), não acabam consigo perdoar a reles ignorância. Os erros dos outros são sempre colossais e eternos erros; os deles, se possíveis, efêmeros descuidos. Muitos há que encaram em todo o espírito produtivo um adversário, um usurpador, e na obra alheia uma provocação?.
Nestas observações de Miguel Couto, ressaltam o que ele define como índice bovárico a presunção ilusória da própria grandeza.
A arrogante referência às falhas alheias evidência o espírito farisaico. Ainda mais ao qualificar a produtividade e a obra dos outros de usurpação e de vocação, traduz a ?invídia medicorum? (inveja entre médicos).
O pai da Medicina Hipócrates já afirmava: ?A Medicina é a mais nobre entre todas as artes; mas pela ignorância dos que a exercem e dos que a julgam precipitada e superficialmente, tem sido postergada?.
É de Hipocrates a Recomendação:
?quem se consagra com afinco ao estudo da Medicina, forçosamente há de reunir as condições seguintes:
– Disposição natural
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– Estudo
– Lugar apropriado
– Instrução desde a infância
– Amor ao trabalho e atividade
É necessário dedicar ao trabalho o maior espaço de tempo, para ampliar os conhecimentos, enraizando-se profundamente aos mesmo, a fim de produzir abundantes e sazonados frutos. São necessários conhecimentos profundos, enriquecidos pela prática.
Há duas alternativas: Saber e acreditar que sabe.
A Ciência consiste em saber. No acreditar que se sabe, está a ignorância. Curta é a vida, longo o caminho, a ocasião fugaz, a experiência falaz, difícil o julgamento (Hipócrates Aforismos e Sentenças. Pág 11 Ed. Tor Argentina).
As considerações do grande Miguel Couto, identificam-se harmoniosamente com as de Hipócrates Pai da Medicina.
É de Miguel Couto o ensinamento aos seus discípulos, válida para todos os tempos: ?Não vos esqueçais de que se toda a Medicina não está na bondade menos vale dela separada?.
A sabedoria popular enfatiza que todas as pessoas tem um pouco de médico , o que é pura verdade, pois os primeiros atos médicos foram praticados por quem não era médico. O socorro ao homem primitivo ante o sofrimento, praticado por alguém igualmente primitivo, constitui o primeiro ato médico.
Nos dias atuais, em que pese os avanços da Medicina, sempre que alguém, movido de compaixão, sensível ao sofrimento do semelhante, dedica lhe os primeiros cuidados, estará executando, de pleno direito, seus atributos médicos. E, se não o fizer, estará incorrendo no crime de omissão de socorro.
Omissão imperdoável comete o profissional médico que, apesar do juramento, esquiva-se do atendimento, ou executa-o com má vontade, displicentemente, sem o devido respeito para com o semelhante, o que certamente não desejaria para si.
Há, contudo, uma indispensável cautela.
Na dúvida, especialmente em caso de acidente, providenciar o atendimento, urgente, por equipe especializada, hoje existente em quase todos os centros urbanos, com especial ênfase o Siate, executado com pronto e competente atendimento pelos bombeiros.
Ary de Christian – Membro Fundador da Academia Paranaense de Medicina
