Depois de 21 discos lançados em 27 anos – e mais de cinco milhões vendidos -, Lulu Santos se perguntou: pra que mais um? “É disco demais, é produção compulsiva e compulsória.
No mesmo período, os Pet Shop Boys fizeram oito; a Sade, cinco. Eu tive essa visão crítica”, diz o rei do pop brasileiro, e conclui: “Eu tenho uma intenção sonora.”
A partir dela surgiu Singular, que Lulu lança pela EMI. Para o cantor e compositor, “sonoridade é discurso”. Ele repete isso algumas vezes durante entrevista por conta do novo CD, em que explora o “manancial de recursos sonoros” da música eletrônica.
“Isto é música pop, não pretendo que seja outra coisa. O pop precisa de um elemento sonoro, não é muito o que diz, mas o que soa. Esse disco me fez me certificar de que sou um artista que trabalha com música eletrônica. ‘Ah, o disco está muito eletrônico!’ Sim, mas a essa altura, se não estivesse, não seria eu.”
A princípio, Lulu gravaria o DVD de Longplay, o show que já foi visto por seis milhões de pessoas, em seus cálculos. O projeto acabou não vingando e Lulu partiu pra outra.
No estúdio, com sua banda, gravou parte do repertório que acabou entrando no CD. Não gostou do resultado – soava velho. “Tem que ser singular!”, pensou. No estúdio, com o tecladista Hiroshi Mizutani, que toca com ele há cinco anos, pôs-se a procurar outras soluções. Chegou ao que queria ao distorcer o som de sua guitarra – “não por saturação, mas por modulação, multiplicação de filtragens”.
São tecnicalidades, mas ele acha importante explicar. “Se isso não tivesse rendido, uma face do disco que é o meu discurso artístico teria feito água.” Nesta “face” está “Baby de Babylon”, a música da trilha da novela “Viver a Vida” que vem tocando nas rádios. Para Lulu, ela “deu liga” ao CD.
Mais: ela “pediu” um disco para ser lançada. Baby já está nos shows; outras, como “Na Boa” e “Duplo Mortal”, chegaram a entrar, mas saíram. Em sequência no CD, são três possibilidades de hit, daqueles que levam a marca d’água de Lulu.
Nove das 12 faixas são de autoria só de Lulu. Ele anda compondo rapidamente, e, quando o possível parceiro demora a mandar a letra… pronto, ele já a aprontou.
As instrumentais “Spydermonkey” e “Restinga” (abertura e fechamento de Singular) são dois dos “metassambas” do CD. Outros são “Procedimento” e “Black and Gold” (Jesse Rogg/Samel Falson), este sucesso do cantor Sam Sparro.
A política “Perguntas” ele pinçou de “Popsambalanço e Outras Levadas”, LP de exatos 20 anos. Singular tem outras duas regravações, de “Atropelada”, composição do baixista Jorge Ailton e Apoena, e “Zazueira”, de Jorge Ben, do repertório de Wilson Simonal – ele fez uma versão para integrar a homenagem recente a Simonal lançada pela EMI.