Luiz Carlos Vasconcelos lembra o lado “social” de fazer Carandiru

Antes de optar pela carreira de ator, Luiz Carlos Vasconcelos pensou em ser médico. Idealista, acreditava que, exercendo a Medicina, conseguiria mudar o mundo. Ou, pelo menos, aliviar o sofrimento de boa parte dele. Na Paraíba, sua terra natal, chegou a trabalhar como voluntário no Hospital Padre Zé, onde aprendeu a fazer curativos e a aplicar injeções. Mal sabia ele que, anos depois, aquele aprendizado lhe seria útil para interpretar o médico Dráuzio Varella no filme Carandiru, de Hector Babenco, e no seriado Carandiru Outras Histórias, da Globo. "Apesar de fascinante, aquela experiência não foi adiante porque descobri que meu objetivo era outro. Como artista, meu papel social também é importante. O próprio personagem no filme é uma prova disso", analisa.

Na série da Globo, Luiz Carlos volta a interpretar o médico oncologista que, no final dos anos 80, engajou-se no trabalho voluntário de prevenção à aids no Carandiru. Na época das filmagens, tornou-se a sombra de Dráuzio Varella em sua incansável rotina de assistência aos detentos do maior complexo penitenciário da América Latina. Logo no primeiro dia, se viu obrigado a ajudar no atendimento de um tuberculoso. Durante a sessão, o paciente teve um acesso de tosse e ele logo desconfiou que tivesse sido infectado. À noite, com dores no peito e falta de ar, ligou para o médico e enumerou os sintomas. Do outro lado da linha, Dráuzio deu o diagnóstico: "Não seja bobo, meu rapaz! Já trabalho nisso há 12 anos e nunca peguei sequer resfriado. Isso não passa de sugestão…", reproduz o ator, bem-humorado.

P – O que achou da idéia da Globo de transformar o filme Carandiru em série de tevê?

R  – Ótima. Acho importante levar esse tipo de discussão para dentro da casa das pessoas. Mostrar para a população que bandido não é só bandido. Há o lado cruel, sim, mas há também o lado humano. Gostei também da oportunidade de voltar ao Carandiru. Um dos pavilhões, inclusive, foi restaurado para as gravações. Por ocasião das filmagens, a atmosfera daquele lugar era densa, pesada. Cada um inventava um jeito diferente de aliviar aquela carga negativa. Dessa vez, havia menos peso no ar…

P – Para fazer o filme, você visitou o Carandiru em companhia do Dráuzio. Como foi a experiência?

R  – Uma das mais marcantes da minha vida. O Dráuzio nunca foi de passar a mão na cabeça de ninguém. Chegava a ser duro em alguns casos. Por conta da falta de estrutura do Carandiru, ele praticava a Medicina sem medicamentos. Por vezes, dizia ao paciente que não conseguiria solucionar o problema dele, apenas aliviá-lo. Quanto a mim, vivia em estado de pânico. Volta e meia, jurava por Deus que tinha sido infectado…

P – Como o público tem reagido à sua participação na série?

R  – Das mais diferentes formas. Outro dia mesmo, fui visitar um amigo no hospital e um dos pacientes perguntou se eu estava ali fazendo laboratório… (risos) É impressionante o poder da televisão… Só lamento que ela não desenvolva o senso crítico da população como deveria. Muitas vezes, ilude os telespectadores ao mitificar os atores. Basta você aparecer na telinha que vira quase um ser de outro planeta…

P – Antes de Carandiru, você fez apenas a microssérie Pastores da Noite e a primeira fase de Senhora do Destino. Por que hesita tanto em fazer televisão?

R  – Não hesito. Quando os papéis que me oferecem são bacanas, eu aceito. Mas, na maioria das vezes, prefiro as chamadas obras fechadas. Não gosto de entrar às cegas num projeto sem saber direito onde ele vai dar…

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