Luciano Pavarotti passado a limpo

São Paulo – Um crianção mimado, preguiçoso, ambicioso, inseguro, incapaz de aprender a música que cantava e, ainda assim, o tenor das multidões, o homem que virou símbolo da ópera no século 20, uma das estrelas mais festejadas e bem pagas do show business mundial. Luciano Pavarotti é um fenômeno: uma voz poderosa, instintiva, um homem repleto de contradições. E, com o lançamento da biografia de seu empresário Herbert Breslin e de um pacote de 3 DVDs em edição nacional, a gente volta a se perguntar: à medida em que o tenor anuncia para 2005 uma turnê de despedida com 40 concertos, como explicar o mito Pavarotti?

O livro de Breslin, The King and I (O Rei e Eu, lançamento em inglês da Doubleday, oferece algumas respostas. É uma biografia de sua relação com o tenor. Pavarotti foi seu primeiro trabalho como empresário – antes fazia as vezes de assessor de imprensa de estrelas como Renata Tebaldi e Joan Sutherland. Ele conta que sentiu no jovem tenor do interior da Itália os elementos que poderiam fazer dele a maior estrela do mundo da ópera: bonachão, com uma voz sem precedentes, "e a compreensão do que era o marketing, do que era preciso fazer para se atingir o objetivo que tínhamos em mente".

O mito Pavarotti foi construído cuidadosamente. Breslin começou com alguns recitais pelo interior dos Estados Unidos: queria ver se o público gostava dele e se ele gostava do público. A química foi instantânea. E o trabalho do empresário foi explorar este potencial: do recital para a ópera, da ópera para o ginásio do Madison Square Garden e, de lá, para os grandes estádios do mundo. Em termos financeiros, estamos falando dos US$ 10 mil de uma récita de ópera aos, muitos anos depois, US$ 2,3 milhões por cada concerto dos 3 Tenores.

Esta é uma das leituras possíveis do livro. A outra é aquela que nos leva pelos bastidores dos 40 anos da carreira do tenor. São histórias de vaidades, de relacionamentos frustrados com secretárias, da avidez cada vez maior por dinheiro, da rivalidade com colegas. É também o conto de uma fila enorme de exageros: lá pelas tantas, a gente fica sabendo que todo um restaurante de Módena foi levado para a China (fogões, geladeiras, cozinheiros, ingredientes etc.) porque o tenor tinha medo de não encontrar nada que prestasse para comer em sua ida a Pequim.

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