‘Loup’ mistura emoção e crítica ambiental

É uma das obras-primas do romantismo francês, “La Mort du Loup”, de Alfred de Vigny. A fascinação pelo instinto do predador e, ao mesmo tempo, a sua quase humanização quando acuado fazem a força do poema. Vigny era conde, decaído pela Revolução Francesa. Morreu em 1863, aos 66 anos. Uma sombra distante do seu lobo projeta-se em “Loup – Uma Amizade para Sempre”, de Nicolas Vanier, embora o próprio diretor admita que estava inebriado pela leitura de Jack London, o de “Caninos Brancos”, quando fez seu filme, em cartaz em São Paulo.

O cinema contou muitas histórias parecidas. Um garoto, na distante – e gelada – Sibéria, exerce, a mando do pai, a função de pastor. Ele cuida do rebanho e sua principal atribuição é proteger as renas dos lobos predadores. Mas o menino, que chega à puberdade, é sonhador. Ele encontra essa loba que ainda alimenta seus filhotes. A comiseração o leva a adotá-los, mãe e filhos. Só que ele precisa esconder o fato do pai, da tribo toda. Precisa redobrar a vigilância. Os filhotes crescem e, afinal, são predadores. Ocorre o que a tribo – e o garoto – temem. O rebanho é atacado. Começa a caçada aos lobos e o herói fica dividido. A amizade, como sugere o acréscimo brasileiro ao título original, é para sempre.

Nicolas Vanier, nascido no Senegal, em 1962, é um diretor desconhecido no Brasil, mas se você entrar na rede e procurar seu site, vai encontrar muitas informações sobre ele. Naturalista, escritor, cineasta, usa as duas mídias – literatura e cinema – para promover o debate sobre as condições ambientais e para divulgar o mundo selvagem, especialmente o que se oculta sob o gelo. Um de seus livros, que ele está filmando atualmente, chama-se L’Or sous la Neige, O Ouro Sob a Neve. “Loup” foi filmado em locação na Sibéria. É uma ficção, mas o tempo todo tem-se a impressão de estar assistindo a um documentário.

As tribos e clãs siberianos são um mistério pelo qual o cinema poucas vezes se interessa. Vanier se aproxima com respeito e fascinação desse mundo primitivo. Ele revela usos e costumes do clã dos evenques, uma tribo de nômades, privilegiando o olhar do garoto, seu protagonista. A natureza exuberante acentua o sentimento de solidão. O que impede o filme de voar mais alto é a falta de rigor. Misturando atores com não profissionais e derrapando em tramas paralelas, “Loup” não difere tanto assim de programas à la Animal Planet. Mas é belo de ver e a trilha de Krishna Levy embala as imagens, que às vezes ficam pastosas – é um filme para se ver com um lenço (um lençol?) à mão, porque o diretor com certeza está querendo fazer seu público chorar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Loup – Uma Amizade para Sempre. Direção de Nicolas Vanier; Drama (Fr/2009, 102min.); censura livre.

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