‘Looking’ retrata a busca pelo amor GLS

Quando Harvey Milk iniciou sua luta em prol da comunidade gay na década de 1970, a cidade de São Francisco, na Califórnia, se tornou o local onde o sonho da tal liberdade sexual – ainda oprimida em muitos rincões do planeta – fosse possível.

Quase 40 anos depois, Looking, nova série da HBO, mostra a cena atual do cartão-postal GLS com a história de três amigos que vivem o drama que dá título à história. E, com alguns baldes de água fria, delatam os problemas do tal paraíso.

O personagem central é Patrick (Jonathan Groff), um designer de videogames de 29 anos que não tem sorte no campo sentimental. Seu namoro mais longo durou pouco menos que cinco meses e ele é um daqueles viciados em aplicativos e redes sociais de relacionamentos, mas suas investidas não costumam render bons frutos. Dom (Murray Bartlett) é o mais velho do grupo e sofre com crise de idade por estar prestes a completar 40 anos e continuar solteiro. Já o aspirante a artista Augustín (Frankie J. Alvarez) é o único comprometido da trinca, mas passa a questionar a existência da monogamia dentro do universo gay ao se interessar por outros rapazes.

A série estreou no dia 19 e somente foram ao ar dois episódios dos oito previstos para esta temporada. E, até agora, nada de inovador foi apresentado. Não que isso faça dela uma história ruim. Há um certo charme e humor em alguns momentos, mas toda a promessa de inovação anunciada antes da estreia, até o momento, não aconteceu.

E talvez a grande culpada seja a extinta Queer As Folk (2000- 2005), que fez algo semelhante a Avenida Brasil no horário nobre da Globo: suas sucessoras não obtiveram o mesmo êxito e sofrem com as comparações. Pioneira ao retratar abertamente na TV o universo gay, relacionamentos, promiscuidade, culto ao corpo, drogas e sexo eram exibidos sem o menor pudor. Mas ela não se resumiu a isso. Questões sociais e direitos civis dos gays foram debatidos dentro da realidade dos personagens. E tinha um pano de fundo sensível, mostrando o processo de aceitação e os problemas familiares e profissionais por conta da sexualidade.

Em Looking, tudo isso já está bem resolvido. Patrick, Dom e Augustín sabem perfeitamente quem são e toda a problemática, por hora, está centrada na procura por um companheiro.

O primeiro episódio, Looking for Now, acerta ao apresentar logo de cara quem é quem na história. Patrick, que segue o perfil nerd e desajeitado, é bastante divertido. Nas primeiras cenas, ele vai com os amigos a um parque em busca de sexo casual e encontra um rapaz afoito. Antes de iniciar, ele tenta saber o nome, idade e profissão de seu novo companheiro, mas é simplesmente ignorado e tem a calça arriada em questão de segundos. Até o final, outras quatro cenas de sexo são exibidas. O rápido jogo de câmeras e os diálogos bem estruturados deram o dinamismo perfeito para a estreia. Porém, o capítulo seguinte é arrastado, recheado de clichês e os 30 minutos pareceram durar muito mais. A falta de um enredo substancial fere a expectativa pelo episódio seguinte. Os personagens apenas buscam sexo. Seus dramas pessoais não estão bem expostos e talvez nem ganhem espaço nas cenas que estão por vir.

Mas o elenco é empenhado. Embora os protagonistas tenham encontrado o tom certo para dosar humor e emoção, quem sobressai é Lauren Weedman, intérprete de Doris, amiga e confidente de Dom, com suas boas tiradas e seu humor. Uma pena aparecer tão pouco. Jonathan Groff deu um ar angelical ao nerd Patrick, e também diverte com a falta de habilidade em causar boa impressão em seus primeiros encontros.

Embora apresentada pela HBO como imperdível, Looking se mostra despretensiosa. Não tem um grande roteiro, mas as boas atuações impressionam. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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