Eduardo Coutinho foi brutalmente assassinado – pelo próprio filho – em 2 de fevereiro de 2014. Em novembro do ano anterior, havia terminado as filmagens daquele que seria seu último filme, mas ninguém sabia disso. Últimas Conversas estreia nesta quinta-feira, 7. No mês passado, o longa abriu o Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Possui um valor inegável, mas não é um grande Coutinho. Moscou também já não havia sido.
O último grande Coutinho foi Jogo de Cena. Depois disso, percebe-se a crise do criador, que vacila e duvida de si mesmo. É quase o tema de Últimas Conversas. Jordana Berg foi montadora dos filmes de Coutinho desde Santo Forte, de 1995. Antes disso, já montara alguns institucionais feitos pelo diretor. Foram 20 anos de amizade e convivência. Jordana tem montado outros filmes, de preferência documentários, de outros diretores. No É Tudo Verdade deste ano, havia quatro montados por ela – além de Últimas Conversas, também Sete Visitas, de Douglas Duarte; Caminho de Volta, de José Joffily; e Eu Sou Carlos Imperial, de Renato Terra e Ricardo Calil.
Quando Coutinho morreu, Últimas Conversas estava no seguinte pé. “Como sempre, havíamos feito a transcrição das entrevistas. Era o nosso processo. Coutinho lia todo o material, fazia suas rubricas, sobre os temas e falas que mais o interessavam. Eu fazia as minhas. Estávamos naquela fase de confrontar as observações.”
João Moreira Salles, amigo e colaborador de Coutinho, foi decisivo no processo para concluir Últimas Conversas. “De cara, vivemos um dilema. Que filme fazer, como ser fiel a Coutinho? Fiz uma montagem segundo as observações dele. A partir das rubricas, tentei me colocar na cabeça do Coutinho, o que parecia fácil, considerando que convivi tanto tempo com ele.”
Mas não foi nada fácil; “João (Moreira Salles) e eu experimentávamos o mesmo mal-estar. Querendo ser fiéis a Coutinho, sentíamos como se o estivéssemos traindo. E aí eu comecei de novo – ganhei até um novo cachê. Essa nova montagem, que foi a que ficou, resgata o processo, mas deixa claro que foram três etapas. O filme foi feito por uma pessoa, montado por outra e finalizado por uma terceira. Por uma questão de honestidade, incluímos não só o crédito como a fala do próprio Coutinho, quando ele expressa suas dúvidas.”
O processo a que Jordana se refere diz respeito às condições de saúde de Coutinho, que chegou a ser hospitalizado, e às tensões que enfrentava em casa (e que explodiram no assassinato pelo próprio filho). O repórter não se furta a expor o que pensa. Mesmo reconhecendo que Coutinho não estava num bom momento, nenhum dos dois duvida que ele pudesse se reinventar, como em outros momentos de sua vida e carreira. A entrevista com a garota é fundamental. “É quando a gente realmente percebe o filme que Coutinho tinha na cabeça”, ela concorda com o repórter. É difícil perguntar a diretores qual seu filme preferido. Eles não respondem. Dizem que filmes são como filhos. Jordana não tem esse problema. Os ‘seus’ Coutinhos são dois, curiosamente, os mesmos do repórter – Edifício Master e Jogo de Cena.
“No Edifício, estava solto, feliz, como nunca o vi. Ele vivia um apogeu e tinha consciência disso. Ria muito. Um dia riu tanto que caiu da cadeira, uma cena que só eu vi e permanece comigo. E Jogo de Cena é importante para mim porque é o filme em que me reconheço como montadora, com o que contribuí.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.