Jean-Pierre Jeunet não é o que se pode chamar de diretor à americana. Desde que se iniciou em dupla com Marc Caro – Delicatessen, A Cidade das Crianças Perdidas -, ele sempre cultivou o gosto por um visual rebuscado, quase expressionista, e por personagens que subvertem o cotidiano pela fantasia. No Rio, onde veio lançar Uma Viagem Extraordinária no Festival Varilux, Jeunet confidenciou ao repórter. Desde menino, ia muito ao cinema. O pai amava westerns, John Ford. Não era um diretor que dissesse grande coisa ao garoto Jean-Pierre. E então ele descobriu Sergio Leone, o spaghetti western. Aquele era o faroeste que se comunicava com ele.
Estava no aeroporto, com Caro, quando ouviram a notícia da morte de Leone. Tinham ido a Londres para acertar detalhes do longa de estreia, Delicatessen. Jeunet pensou consigo mesmo: “Tenho de continuar fazendo o cinemas desse cara. Ele não pode morrer”. Nada mais diferente do cinema de Leone que O Destino de Amélie Poulain e, agora, Uma Viagem Extraordinária. Diferente de verdade? “O que sempre me atraiu em Leone foram as lentes que amplificam e distorcem a paisagem e os personagens. Até hoje me pergunto sempre, ao filmar – que lente ele usaria?”
O novo Jeunet baseia-se num livro de Reif Larsen, O Mundo Explicado por T.S. Spivet. O protagonista é esse garoto que se interessa por cartografia e vive com os pais numa fazenda em Montana, onde ocorreu umas tragédia – a morte acidental do irmão. T.S. – iniciais de Tecumseh Sparrow, e o nome tem sua importância – começa a viagem extraordinária quando seu invento, uma máquina destinada a reproduzir o movimento perpétuo, é premiado e ele é chamado ao Smithsonian Institute, em Washington.
Ao repórter, Jeunet contou que, ao contactar o escritor, foi surpreendido por sua revelação. “Finalmente! Sempre quis que meu livro fosse adaptado para o cinema e você estava no topo da minha lista com Tim Burton, Wes Anderson e Alfonso Cuarón.” Mesmo desconfiando da sinceridade, Jeunet comprou os direitos e decidiu que teria de fazer o filme em 3D. Ele cita com orgulho o que disse a revista Variety: “É o melhor 3D já feito. O recurso é intrínseco à história, não está ali para criar efeitos”.
A ideia lhe veio porque Jeunet achou que seria interessante animar, e dar profundidade, aos desenhos que T. S. faz nas bordas das páginas do livro. Como integrá-los ao relato? Filmar em 3D foi a experiência mais árdua de sua carreira, mas ele descobriu que todos os seus filmes poderiam se beneficiar do recurso. “Muita gente se queixa de dor de cabeça por causa do 3D, mas é quando é malfeito.” E ele acrescenta: “Meu cinema em geral custa caro e é um problema conseguir o financiamento. Minha meta é fazer filmes mais baratos, mas minha imaginação me leva a essas jornadas extraordinárias.” Filmar com Helena Bonham Carter era um desejo antigo de Jeunet, mas ele não poupa elogios ao menino Kyle Catlett. “Você pensa que ele é frágil, mas é um duro. E mais profissional que qualquer adulto.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.