De Tod Browning a Francis Ford Coppola, passando por Terence Fisher e Roy Ward Baker, grandes diretores se debruçaram sobre o mito de Drácula. Príncipe das sombras, guerreiro sem piedade, Vlad inspira temor como o empalador, mas isso é só o começo da jornada. E, assim como diretores, atores também assumiram o desafio de reviver nas telas a sinistra criatura. Bela Lugosi, Christopher Lee, Gary Oldman. Houve até abordagens cômicas, nenhuma mais divertida que as de Roman Polanski em A Dança dos Vampiros.

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Você podia pensar que já sabia tudo sobre Drácula, mas agora chega a verdadeira história nunca contada. De como um príncipe da Transilvânia, com a missão de proteger seu reino e o filho – para que o garoto, como ele, não integre o Exército com que os turcos querem conquistar o mundo -, vende a alma ao demônio que habita a mais escura caverna (a da mente?). Como o Drácula de Coppola, o de Gary Shore vai atravessar o tempo como um maldito, em busca do amor redentor e romântico. A mulher e ele sacrificam-se pelo filho, e o garoto vira um rei aparentemente piedoso. O pai vai atravessar os séculos até chegar ao mundo contemporâneo, numa estranha relação com aquele a quem salvou, e que o salvará para juntos estabelecerem a relação mestre/discípulo, ou servo.

Gary Shore é um jovem diretor irlandês que veio dos comerciais. Cria cenas de grande elaboração visual – castelos nas montanhas que parecem pertencer ao mundo dos quadrinhos e a esvoaçante capa vermelha do herói, que pode se transformar nas asas de um morcego. Shore escolheu atores belos – Luke Evans e Sarah Gadon -, que fazem os amantes imortais, mas o que faz a diferença em Drácula – A História Nunca Contada, é Charles Dance. O ator de Game of Thrones é o mestre da caverna, que vai fazer o pacto com Vlad. Durante três dias ele terá de resistir à incontrolável sede por sangue. O herói – o pai, o amante, o guerreiro – sacrifica-se, vive o inferno na Terra, mas a mulher, por amor, o libera para a orgia de sangue.

‘Você não tem ideia’, adverte o personagem de Dance sobre os tormentos que Vlad vai enfrentar. Consciente, o herói ainda fará um último esforço para destruir os monstros que criou – como derradeiro esforço para vencer o inimigo -, mas a pirueta final, que lhe valerá a eternidade, é sua condenação. Há algo de Fome de Viver, o cult de Tony Scott, neste final (pós)moderno. E o conto nunca é de fadas. Possui camadas – de dor, de medo, de sofrimento. De erotismo. O filme é bem interessante, na vertente de Coppola mais que na de Terence Fisher. Como Ward Baker, Shore quer mostrar as cicatrizes de Drácula – as internas, mais que as externas. O filme, se terminasse no campo de batalha, seria melhor – um conto moral. Mas aí a história nunca contada teria um fim. Em termos de mercado, seria um desperdício. Há, sinal dos tempos, um desejo ardente por sangue. True Blood.

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Gary Shore sabe disso e dá ao público o que ele deseja, no filme que estreia nesta quinta-feira, 23.