Longa ‘Amazônia’ estreia em época de Copa

Quando se pensa em Amazônia, a floresta, os números são sempre superlativos. E quando se pensa em Amazônia, o filme, não poderia ser diferente.

Coprodução entre Brasil e França, o longa que entra em cartaz nesta quinta-feira, 26, depois de ter feito carreira nos festivais internacionais e ter sido visto por 400 mil pessoas na França, além de estrear na Itália, Alemanha, entre outros países, é o mais caro da história do cinema nacional e chega finalmente a 200 salas do País em plena Copa do Mundo.

A decisão, ainda que ousada, não é por acaso. “Junho, mesmo com a imensa competição da Copa, dos blockbusters americanos, é mês de férias. E não podíamos perder esta chance de alcançar o público infantil”, comentou o produtor Fabiano Gullane em conversa com o jornal O Estado de S.Paulo.

De Fato

Amazônia, que foi totalmente rodado em formato 3D, levou três anos para ser realizado e consumiu R$ 26 milhões, não foi idealizado para o público infantil, mas é com a garotada que a versão final do filme se comunica melhor. Tudo porque, diferentemente do primeiro corte, que fez sua pré-estreia mundial em outubro no Festival do Rio e estreou na França, a versão final ganhou uma narração em primeira pessoa do protagonista da história, o macaco Castanha.

Agora, em vez de um tom quase documental, que pede que o espectador seja tão observador quanto os que vivem a registrar imagens da natureza, Amazônia ganha a voz de Castanha, que conta cada passo de sua aventura na maior floresta do mundo.

Engana-se quem pensa que o longa nasceu como documentário. “Desde o início, quando, em 2008, Stéphane Milliére (produtor francês) nos apresentou em Cannes, a ideia de filmar na Amazônia, sempre houve a intenção de contar a saga de um macaquinho de circo, urbano, que vive no Rio e acaba sendo obrigado a aprender a sobreviver na selva, depois que o avião em que viajava cai na floresta”, conta Gullane. “Mas a narração criada por José Roberto Torero para a história escrita por Luiz Bolognesi deu uma capacidade incrível ao filme de se comunicar com o público brasileiro, que pede mais ação”, explica Fabiano.

Produtor experiente à frente da francesa Gedeon, Milliére escalou o diretor Thierry Ragobert, que trabalhou com mestres como Jacques Cousteau e tem longas como Planeta Branco no currículo, para conduzir uma equipe de cerca de 100 pessoas. Dessas, 35 eram francesas e 65 brasileiras, que se aventuraram pela floresta carregando em média 45 toneladas de equipamentos. Tudo isso para registrar em ritmo de documentário, mas com roteiro de ficção, a história de Castanha.

É por estas e outras que filmar o roteiro de Bolognesi era uma das etapas mais cruciais e intensas do trabalho. “Pense no imenso desafio que foi filmar, em plena floresta, não uma animação, mas filme de verdade, sem efeito especial, um roteiro que eu escrevi. Não eram atores, nem animais adestrados, mas sim selvagens. Respeitar o tempo deles e ser fiel à realidade era dificílimo”, diz Bolognesi.

Para o roteirista, tão importante quanto respeitar o meio ambiente local foi registrar as ações dos quatro macacos que se revezaram no papel de Castanha, levando em conta seu cotidiano. “Tinha medo de que criar uma voz para ele o tornasse artificial, mas, quando mostramos o filme para os profissionais que nos auxiliaram no processo, gente que trabalha com meio ambiente no Pará e no Amazonas, eles aprovaram. Isso foi muito gratificante”, comemora Bolognesi.

Fabiano conta que a equipe usou muito a técnica de observação. “Alguns câmeras dormiam em cima das árvores por dias até que o macaco passasse e acontecesse a ação”, explica o produtor, que escolheu como locação uma área de Presidente Figueiredo, no Amazonas, região de muitas cachoeiras e berço de muitos grupos de macacos-prego. “Com a ajuda do Ibama, selecionamos quatro macaquinhos para viver o Castanha. Eles eram bem selvagens e viviam em uma área da floresta delimitada. Um adorava água, outro amava comida, outro trepava nas árvores com muita facilidade.

Tudo dependia muito do humor deles”, comentam os produtores. “As ações dos animais parecem interpretações, mas houve uma grande preparação e pesquisa”, comenta o também produtor Caio Gullane. “Viajei à floresta várias vezes para entender como são na vida real. O roteiro francês inicial trazia um Castanha com pouco jogo de cintura. Criei uma personalidade mais brasileira para ele, mais de anti-herói, de alguém que tem a inocência na floresta, mas a esperteza, a malandragem de quem é frágil e inteligente ao mesmo tempo”, informa Bolognesi.

Se os especialistas aprovaram o respeito à vida selvagem, o público infantil aprovou a humanização de Castanha. “Nas pré-estreias, vimos uma reação superpositiva das crianças”, diz ainda Fabiano.

Com a voz do ator Lúcio Mauro Filho, Castanha divide com o público dúvidas, angústias, descobertas, medos e conquistas. A opção foi acertada e os diálogos internos criados por Torero funcionam bem. “Adoro escrever voice over e narração.

A parte do roteiro que mais gosto é criar os diálogos. Foi uma delícia criar as falas do Castanha. O que fiz foi escrever a partir do personagem que já existia no roteiro, com base na personalidade dele”, explicou Torero. “Ele é sentimental, inexperiente, engraçado, delicado. E foi isso que tentei fazer ao criar os pensamentos dele. Nunca ser didático, mas conversar com o público”, completou Torero.

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