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Lollapalooza 2019: depois da chuva, a festa

O Lollapalooza Brasil viveu um dia complicado neste Sábado (6). Muito antes de Post Malone e Lenny Kravitz subirem ao palco, por volta de 14h20, os shows foram interrompidos e um produtor informou que o motivo eram os raios que começavam a cair na região do Autódromo de Interlagos. Entre esse momento e duas horas depois, os fãs viveram uma situação de indefinição – resolvida por volta de 16h30, quando o acesso aos palcos foi novamente autorizado.

As informações nos palcos e portões eram desencontradas. Ao mesmo tempo que a produção do evento mandou as pessoas que estavam no palco Ônix saírem do Autódromo, outros locais não fizeram o mesmo. Quando a chuva chegou, mais fraca e rápida do que o esperado, e quase sem os raios temidos pela previsão, massas corriam para lugares diferentes.

Uma multidão se formou em frente do portão 7 pedindo orientação, mas não havia informação. Outras pessoas ficaram no Autódromo com a expectativa da volta dos shows. Por volta das 16h30, as luzes dos palcos foram religadas e as apresentações retomadas.

O alerta foi dado em Interlagos assim que técnicos identificaram a aproximação de fortes rajadas de vento. O porta-voz do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de São Paulo, capitão Marcos Palumbo, garantiu que o Lollapalooza tem todas as condições de segurança e autorizações exigidas pela corporação.

“O evento e o Autódromo têm todas as condições de segurança garantidas para situações climáticas e incêndios”, exemplificou. “A única situação que veria uma possibilidade de evacuação seria em um evento fora do comum, como ameaça de bomba.” O Centro de Operações da corporação não chegou a ser acionado. A previsão do Centro de Gerenciamento de Emergências de São Paulo para o domingo é de pancadas de chuva isoladas

Mesmo após a retomada da programação, alguns shows foram cancelados em definitivo. Rashid, Dubdogz e Lany, que chegaram a subir ao palco, mas foram interrompidos pela produção do festival, no momento da suspensão das atividades. Já Silva e Chemical Surf não chegaram a se apresentar e tiveram seus shows cancelados. Silva publicou uma mensagem no Instagram lamentando a situação. “Contra a natureza, não há lei”, disse.

O Lollapalooza tem um histórico de má sorte com condições climáticas em suas edições. No Brasil ainda não havia ocorrido, mas em 2018, a produção do evento na Argentina cancelou o terceiro dia de shows, no domingo, 18 de março de 2018, por conta das chuvas. Se apresentariam ali Pearl Jam, David Byrne e LCD Soundsystem. Em junho do mesmo ano, em Chicago, 160 pessoas foram hospitalizadas por causa das altas temperaturas na região do Grant Park (em 2017, esse número foi de 234 pessoas).

Também em 2017, o festival teve de evacuar cerca de 100 mil fãs no dia 4 de agosto, por conta de chuvas e raios e alertas do National Weather Service (durante o início do set de Lorde e do Muse). Em 2012, o mesmo ocorreu na tarde de sábado daquela ocasião.

Shows do dia

No primeiro show de uma grande estrela do rap americano no Brasil, Post Malone fez uma das apresentações mais marcantes do Lollapalooza Brasil até aqui, talvez pelo fato de que o que ele traz é indiscutivelmente novo (não que ele seja o inventor do gênero, porque não é; mas ele foi o quarto artista do mundo a mais vender discos, físicos e no streaming, em 2018). Durante o show, ele chamou ao palco o funkeiro brasileiro MC Kevin o Chris (dos funks “da Gaiola”) – e evidenciou a falta que os artistas do gênero fazem no festival.

Post Malone teve uma ascensão meteórica após lançar seu primeiro single, White Iverson, em 2015. Desde então, surfando na onda do gênero que ultrapassou o rock em ouvintes nos últimos anos (o hip-hop), o músico de 23 anos lançou dois discos e fez inúmeras parcerias com outros artistas populares.

Em seguida, o Kings of Leon (sem nenhum disco novo desde WALLS, de 2016) encerrou o festival com um show morno. Sem sobressaltos ou firulas, a banda fez um panorama da carreira.

Mais cedo, o Bring Me The Horizon driblou a garoa e teve uma apresentações animada. A trajetória da banda inglesa se confunde um pouco com a do próprio festival: ambos passaram a se abrir a influências distintas com o passar dos anos como pop e eletro. A migração fica evidente no show.

O Snow Patrol foi quem reinaugurou o evento após as chuvas do “Apocalooza”. Em um show enxuto, os hits mais esperados ficaram mais próximos uns dos outros no setlist.

‘Vida volta após apocalipse’

Lenny Kravitz parecia dar o grito que estava preso em uma plateia cansada, que já havia passado por um entra e sai do autódromo, uma ameaça apocalíptica da produção e um corre-corre para fugir da chuva.

Fly Away veio com força, com Lenny cheio de vontade de reativar o fogo que havia desaparecido dos palcos. A segunda foi Dig In, outro hit, mas que só precedeu o maior barulho que seria American Woman. Rock and roll puro, traficado dos anos 1970 da banda canadense Guess Who, com a força de um som de guitarra cortante que o Lolla ainda não havia sentido neste ano. A música acaba e volta em um ritmo de reggae para um longo e quase extinto solo de guitarra.

Lenny fez muita gente dançar com um espírito já vintage quando cantou It Ain’t Over Till It’s Over. Tudo perfeito, vocal, solo, banda classuda e sem firulas. Foi um tratamento de choque que Lenny decidiu fazer enfileirando músicas tão poderosas. Always on the Run ficou arrebatadora, exatamente como no disco Mama Said, com um trio de metais.

Era talvez a cota dinossáurica do Lollapalooza Brasil 2019 – festival que em outros anos chamou nomes como Metallica, Pearl Jam e Red Hot Chili Peppers para arrebanhar multidões. É cada vez mais evidente que o rock mudou em um festival assim. Muita música eletrônica, climas espaciais, camadas cool. Mas aí Lenny Kravitz toca Again, uma simples balada roqueira, e percebemos o quanto precisamos disso.

Mesmo as canções do novo disco, Raise Vibration, de 2018, contam um groove que remete aos melhores momentos de sua carreira, sempre vinculados aos ritmos mais tradicionais do rock, do soul e do reggae.

Num gesto de cortesia digno de grandes músicos e talentos, ele diz no palco: “Um abraço para Jorja Smith, onde quer que ela esteja tocando agora. Eu gosto muito dela, não acredito que estamos no mesmo horário”. Era essa justamente a coincidência de horários mais cruel desta edição do festival, já que os dois – ele com uma carga única que vem do fim da década de 1980, ela com o caráter de novidade que explodiu já no mundo do streaming – exploram regiões próximas da música negra de origem americana.

No palco Ônix, sob uma fraca – mas persistente – garoa, a cantora britânica se apresentou com todos os integrantes da sua banda usando camisetas da Seleção Brasileira.

A inglesa de 21 anos animou o público com suas canções mais famosas, como seu single de estreia Blue Lights. Como já era esperado, o show foi de músicas mais suaves, embora o baterista tenha impressionado a plateia com sua performance eletrizante em certos momentos. A cantora Liniker, que já havia citado Jorja Smith em seu show, estava na plateia e foi aplaudida quando apareceu no telão.

Jorja foi indicada para o Grammy de artista revelação neste ano, mas foi vencida por Dua Lipa.

Dona de voz potente, a cantora já abriu shows de Bruno Mars e fez parcerias com Kendrick Lamar e Drake – estrela do hip-hop mais popular do mundo, que ajudou a carreira dela a decolar depois de ouvir uma canção sua num voo longo.

Como já tem sido de praxe entre cantores estrangeiros que se apresentam no Lollapalooza, Jorja Smith soltou um “I love you, Brasil”, arrancando aplausos de quem a assistia. Ao final, tirou uma foto com a plateia de fundo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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