Em 2015, Sam Smith era uma das principais estrelas da música pop global quando tocou no Rock in Rio logo antes de ninguém menos do que Rihanna. Naquele momento, Stay With Me tinha alta rotação nas rádios de todo o mundo e ele, muito jovem, aparecia como um prodígio de voz angelical e baladas sofridas. Agora, no palco do Lollapalooza Brasil ele chega como um sujeito mais maduro e com as canções mais recentes produzidas com nomes como Disclosure, Calvin Harris e Normandi, que emprestam ao show uma fluidez diferente.
De lá para cá, ele lançou disco, rodou o mundo, se descolou um pouco da imagem construída de sofredor do amor e recentemente se identificou como pessoa não binária (nem homem nem mulher).
A questão que se coloca ao assistir ao show de 2019 é se o caráter de novidade que sua voz imprimia há quatro anos era o que fazia Sam Smith fazer um show perto da perfeição. Pode ser também o repertório pouco inspirado de The Thrill Of It All, de 2017, mas a impressão é que o show de 2015 era mais poderoso, mesmo com truques como acrescentar à apresentação alguns covers. Para fazer justiça, o álbum novo aparece em menos da metade do show.
A vibração romântica que brilha nos hits maiores, como I’m Not The Only One e Too Good At Goodbyes, se torna cansativa pelo caráter ordinário dos arranjos da banda, sempre acomodada atrás dos vocais dele e das parceiras de backing vocal.
Há um passeio por um R&B inofensivo em alguns momentos, e um par de investidas no house music que esquentam as coisas um pouco, mas com as baladas na linha de frente o show custa a decolar. Mesmo quando ele pede, emocionado, para a plateia repetir com ele alguns coros, a resposta é fria. Ainda assim, o Palco Onix e sua ladeira que transformam o espaço num imenso auditório natural estavam tomados de gente.
Mas não seria mau para Sam Smith tomar umas aulas com Lulu Santos, por exemplo, e levar para casa algumas dicas de como entregar um show pop romântico mais envolvente.