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‘Lolla’ do interior

De duas a três vezes por semana, Carol Laudissi (a Carolla, voz), Marcelo Bonin (bateria) e Juca Natal (guitarra) se encontram para criar novos sons a toque de caixa. Também, pudera: desde o início de 2018, quando mostraram as primeiras músicas da recém-formada banda deles, a Bamba EFX, a Luciano Benetton, um dos organizadores do Locomotiva Festival (realizado em Piracicaba, cidade localizada a 150 km de São Paulo), eles se viram obrigados a correr. Luciano curtiu, aprovou e convidou o trio de músicos formado na cidade para fazer o debute em um dos palcos da terceira edição do seu festival, realizada em agosto próximo, dias 18 e 19, na cidade.

“Vamos existir a partir do Locomotiva”, explica Carolla. Na edição deste ano, há outros como o Bamba EFX. Do total de 34 atrações divididas em dois dias de programação, nove são artistas de Piracicaba. Além da Bamba EFX, estão confirmados Odradek, Cabral, Namaha, Spiral Guru, Cabeça Chata, Yamasasi, Zona 96 e Rio Grande Blues. E há ainda casos como a Laranja Oliva, de Limeira, cidade vizinha.

“Um festival como esse só fortalece a cena local”, avalia Bonin. “É importante que as pessoas saibam que existem cantores e compositores fazendo um trabalho autoral na cidade”, segue o baterista. Carolla e Bonin mantêm um outro projeto musical com apresentações em eventos, casamentos, iniciado antes da Bamba EFX. A banda com músicas próprias, agora, passa a tomar o tempo (e a prioridade nas agendas) deles. “Nos encontrávamos sem a pretensão de ser uma banda”, ela lembra, “tudo mudou com o convite para o festival.”

Para Luciano Benetton, que manteve o Locomotiva Festival em atividade em 2015, 2016 e de volta em 2018, eventos como esse, espalhados pelo interior do Estado de São Paulo, “servem como motor para a cena local” – ou como antenas parabólicas que ampliam o alcance desses grupos nascidos no interior. “É em festival que muita banda começa”, ele diz.

Festivais como Locomotiva Festival (em Piracicaba), Contato (São Carlos), Circadélica e Febre (ambos de Sorocaba), Vento (São Sebastião) e João Rock (Ribeirão Preto), entre outros espalhados pelo território paulista são como miniversões dos gigas Lollapalooza, em São Paulo, e Rock in Rio, no Rio. Criam seus pequenos universos musicais diante de um público que está longe de ser tão numeroso quanto aquelas dezenas de milhares de pessoas que frequentam os festivais das capitais.

O que, aliás, pode ser uma vantagem. “Não vou em Lollapalooza e festivais assim porque não gosto de ficar no meio de tanta gente”, diz a videomaker Jackeline Santos, nascida há 29 anos em Santo André, na região metropolitana de São Paulo. Por isso, para ela, o Circadélica, de Sorocaba, realizado pelos caras da bandas Wry e donos do icônico bar local Asteroid, é o “festival perfeito”. Esteve presente no ano passado – que marcou o retorno do Circadélica, cuja primeira e única edição, até então, se deu em 2001. Vai novamente em 2018, já no próximo fim de semana, nos dias 28 e 29 de julho.

“No passado, por exemplo, eu conheci a cantora Paula Cavalciuk”, cita. Para o estudante de direito Pedro Castelucci, de 22 anos e morador de Belo Horizonte, o clima de festivais que ele frequentou, Circadélica e Locomotiva, é outro atrativo. “No segundo Locomotiva que eu fui, levei meu pai, meus irmãos”, ele conta. “Além disso, a gente que é do interior (o rapaz é da cidade de Taquarituba, a 330 km de São Paulo) não tem a chance de ver bandas legais, a não ser que você goste de Fernando & Sorocaba.”

O rapaz, por sinal, está ansioso por assistir ao show de O Terno, banda que se apresenta em ambos, Circadélica e Locomotiva, neste ano. “Nem sempre chegar a cidades do interior é fácil”, explica Gabriel Basille, o baterista da banda. “É interessante conseguir chegar a esses lugares feitos por gente jovem, que tem vontade de fazer acontecer.”

É o caso de Mario Bross, vocalista da banda Wry e um dos donos do bar Asteroid e do Circadélica. Em 2001, inspirado pelo Lollapalooza, o grupo criou o seu próprio festival. “E reunimos 4 mil pessoas”, ele lembra. Depois de uma temporada morando em Londres, a banda voltou e, em 2017, reviveu seu festival, agora em sua terceira edição.

Conseguir alcance e público no interior, afinal, sempre foi importante para as bandas. Veterana, a gaúcha Fresno, por exemplo, passou pelo interior antes de chegar à capital. Atração do Locomotiva deste ano, Lucas Silveira quer colocar sua banda em mais festivais. “Fizemos um mapeamento, de eventos como esse, de pequeno, médio e grande porte”, ele diz. De certa forma, o mesmo desejo une uma banda como a Fresno, e seus quase 20 anos de história, com a Bamba EFX e seus menos de 20 meses de existência.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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