Um dia, quem sabe, de tanto ouvir falar de prêmios, homenagens e salamaleques angariados por ele além das nossas fronteiras, os paranaenses comecemos a prestar mais atenção no trabalho de um nosso chegado, o jornalista e escritor Wilson Bueno, colunista de O Estado. E – suprema conquista – talvez antes da sua morte…
Pois não é que Wilson foi brindado com nada menos que 30 (trinta!) páginas na última edição da Tsé Tsé, a mais importante publicação cultural da Argentina? Está lá: uma caudalosa entrevista, poemas, resumos das obras e textos lisonjeiros de amigos, como os saudosos Paulo Leminski e Jamil Snege.
“Fiquei surpreso. Pensei que ia sair só uma entrevista, e eles vieram com esse catatau”, comenta o escritor. “Estou muito grato pela homenagem e a sensibilidade dos argentinos.” Para ele, é mais um sinal do interesse crescente dos latino-americanos pela literatura brasileira. “Só falando de mim, um projeto da Editora Tsé Tsé vai publicar todos os meus livros na Argentina, o mesmo acontecendo com a Intemperie Ediciones no Chile. Soube também que Mar Paraguaio tem circulado pela comunidade hispânica de Nova York em fotocópias, o que muito me honra.”
O reconhecimento aparece também em outros estados brasileiros, como São Paulo, Rio e até no Mato Grosso do Sul. “Comecei a receber e-mails de estudantes sul-mato-grossenses, e descobri que o vestibular unificado da UFMS incluiu Meu Tio Roseno, a Cavalo (2000) no seu próximo vestibular. O que me causa espécie é nunca ter acontecido isso aqui, no meu Estado natal.”
E qual seria a explicação para tamanha indiferença conterrânea? “Creio que a velha autofagia curitibana, que impede qualquer santo de fazer milagre por aqui”, arrisca. “E isso se reflete nos convites para palestras e eventos, muito mais freqüentes em outros estados.” Uma exceção será a participação na próxima edição do Perhappiness, a convite de Décio Pignatari, e que terá contornos internacionais.
Natural de Jaguapitã, Wilson Bueno é autor de Boleros Bar (1986) – o único livro prefaciado por Paulo Leminski -, Manual de Zoofilia (1991), Mar Paraguaio (1992), Ojos de Agua (1992), Cristal (1995), Pequeno Tratado de Brinquedos (1995), Jardim Zoológico (1997), Os Chuvosos (1999) e Meu Tio Roseno, a Cavalo (2000) – este último finalista do Prêmio Jabuti.