A ópera brasileira sempre andou um tanto perdida no tempo. Entre passado e presente, há poucos registros sobre o que se faz por aqui – e não é por acaso que o futuro do gênero parece sempre incerto, às voltas com os mesmos ciclos de esperança e desilusão por parte de artistas, crítica e público. Na contramão dessa realidade, trabalho importante tem sido realizado pelo pesquisador Sergio Casoy que, após livros como “A Ópera em São Paulo” (Edusp), lança agora “Contos de Óperas e Cantos” (Algol, 312 págs., R$ 55).

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De certa forma, os dois livros se complementam, apesar de diferentes em abordagens e mesmo em objetivos, ao mostrar a preocupação do autores em registrar o que de mais importante acontece no cenário operístico nacional. A “Ópera em São Paulo” trazia o levantamento de todos os espetáculos realizados na cidade de 1954 a 2005, com as fichas técnicas completas, além de entrevistas com testemunhas desse período. Já “Contos de Óperas e Cantos” é a reunião de textos inéditos ou escritos para programas de espetáculos realizados na cidade, acrescida de entrevistas com compositores brasileiros que tiveram obras estreadas nos últimos anos.

Isso resulta em um panorama importante. Ainda na chave histórica, o que Casoy nos oferece é uma pista das tendências de repertório na última década, marcadamente italiano, é verdade, mas com uma presença surpreendente de títulos americanos, russos, alemães e franceses. Anexo importante, porém, é a inclusão de autores brasileiros na coletânea. Trata-se de um território soterrado sobre destroços dos mais variados. Em primeiro lugar, há a percepção equivocada de que a ópera morreu com Puccini, na primeira metade do século 20; e, depois, é preciso lembrar que óperas contemporâneas sofrem com a falta de espaço para a música nova em geral – até porque exigem um envolvimento institucional maior para ganhar o palco, uma vez que precisam de orquestra, diretor, cenógrafo, figurinista, etc., para ganhar vida.

Por tudo isso, novas óperas brasileiras são raras – e correm o risco de se perder em meio à programação. Registrar sua existência, neste sentido, é fundamental – e é material de referência histórica. Ronaldo Miranda (A Tempestade), Guilherme Bernstein Seixas (O Caixeiro da Taverna) e Edmundo Villani-Côrtes (Poranduba) são os compositores ouvidos.

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Há ainda ensaios sobre as personagens femininas de Carlos Gomes, sobre Maria Callas, além da música vocal no palco de concertos, longe da ópera. Em resumo, onde há voz, há Sergio Casoy. A paixão pelo canto transborda dos seus textos, esteja ele falando do programa de um recital do tenor Fernando Portari e da soprano Rosana Lamosa ou sobre as origens da ópera Otello, de Rossini, apresentada no Festival Amazonas de Ópera, ou O Castelo de Barba Azul, de Bartók, apresentada no Teatro Municipal de São Paulo. Em cada página, informação e análise caminham juntas, com bom humor e leveza. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.