A história das três primeiras décadas da Editora Abril, a partir da visão e da vida profissional do jornalista e advogado Cláudio de Souza que, em quase 25 anos, foi um de seus mais destacados colaboradores. Este é o enfoque do esperado O Homem-Abril Cláudio de Souza e a história da maior editora brasileira de revistas, que a Opera Graphica acaba de lançar.
Entre março de 1951 e setembro de 1975, Cláudio de Souza passou por quase todos os departamentos da empresa. Por oito anos, trabalhou como assessor pessoal de seu fundador, o americano Victor Civita (1907-1990), ajudou-o a falar corretamente o português, a inspecionar as bancas, organizou a distribuidora Dinap e fez o que sabia melhor que ninguém: criou incontáveis revistas que ajudaram a transformar a Abril na maior empresa do ramo na América Latina.
Apaixonado por quadrinhos, Cláudio de Souza lançou gibis que existem ainda há 30, 40, 50 anos, como Mickey, Zé Carioca, Disney Especial, Mônica, Cebolinha e muitos outros. Entre 1971 e 1974, à frente do Departamento de Publicações Infanto-Juvenis da Abril, praticamente triplicou a tiragem mensal das revistas, que pulou de 1,4 milhão para 4 milhões. Fundou ainda o Centro de Criação, para formar desenhistas e roteiristas.
Entre suas outras realizações na área de publicações, destacaram-se os ?manuais? Disney, cuja primeira edição de Escoteiros Mirins vendeu 500 mil exemplares. Antes disso, envolveu-se diretamente com os lançamentos de Capricho, Cláudia, InTerValo e fundou, praticamente sozinho, em 1970, a revista Placar, cujo título foi sugestão sua ainda em 1952.
Cláudio tomou para si o sonho de Civita de fazer da Abril uma grande editora. Trabalhou até catorze horas por dia, sem nunca perder o entusiasmo e colocou seu nome no alto do expediente das revistas do grupo. Fez também trabalhos indigestos como demitir funcionários.
Para a história da editora, porém, ele se transformou num dos milhares de anônimos que, durante muito tempo, sacrificaram-se com salários baixos e muitos esforços para construção de um projeto empresarial.
Gonçalo faz revelações surpreendentes. Como o fato de Victor Civita permanecer no anonimato por dez anos, uma vez que era estrangeiro e não podia ser dono de uma empresa de comunicação. Revela como os fascículos ajudaram a Abril a se tornar uma grande editora e dá detalhes de como o grupo americano Time-Life quase conseguiu convencer Civita a criar um canal de TV em São Paulo. Ele, então, sugeriu que procurasse seu amigo, Roberto Marinho.
O Homem-Abril chegou a ser anunciado entre 2001 e 2002, mas o autor preferiu adiar o lançamento, uma vez que seu propósito era ser um complemento de A guerra dos gibis, publicado em 2004 pela Companhia das Letras e considerado o mais profundo trabalho já realizado sobre censura e a formação do mercado de revistas em quadrinhos do Brasil.
Segundo o autor, o livro procurou principalmente recuperar, como pano de fundo, o surgimento da imprensa de revistas em São Paulo. ?Embora fale das relações da Abril com o regime militar e destaque documentos encontrados no arquivo do Deops, minha preocupação foi cobrir o período em que o editor trabalhou lá?, explica Gonçalo. ?Longe da pretensão de contar tudo sobre a Abril, creio que deixo pistas interessantes para que outros pesquisadores venham a desenvolver trabalhos complementares sobre a editora?, acrescenta ele, que diz NÃO ter escrito um livro para conseguir emprego no império dos Civita.
O Homem-Abril
Cláudio de Souza e a história da maior esditora brasileira de revistas Opera Graphica Editora – Autor Gonçalo Júnior – Formato: 16 x 23 cm – 304 páginas; papel especial, impressão p/b, com um caderno de 32 págs. em cores, em papel couché 115g – Preço de capa: R$ 49,00.