Depoimentos inéditos com 24 ex-secretários de imprensa e porta-vozes da presidência da República compõem o livro No Planalto, com a imprensa, lançado no último dia 14, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF).
Confeccionada em dois volumes, com mais de mil páginas, a obra traz relatos de Autran Dourado, que assessorou Juscelino Kubitschek, a André Singer, que trabalhou junto a Luiz Inácio Lula da Silva.
É um relato de mais de meio século de convivência dos meios de comunicação com o Governo Federal, expondo uma série de curiosidades sobre os bastidores do poder. Hoje,
O Estado entrevista a designer gráfica Manoela Leão, responsável pela empresa curitibana Gusto Editorial e Design e que esteve à frente do projeto gráfico da obra.
O Estado: Como foi o trabalho de produção do livro?
Manoela: O trabalho começou com uma conversa entre dois dos organizadores da obra, André Singer e Carlos Vilanova, que trabalha na imprensa internacional. Eles notaram que haviam várias lacunas no passado da assessoria de imprensa do Palácio, principalmente na época da ditadura militar, e resolveram tentar resgatar este passado.
Posteriormente, se juntaram a eles Jorge Duarte, da Secretaria de Imprensa do Planalto, que fez todas as entrevistas no ano de 2006; e Mário Hélio Gomes, que realizou a edição.
Os depoimentos foram colocados em forma de perguntas e respostas e organizados em dois volumes. O primeiro diz respeito à época anterior à ditadura. O segundo é pós-ditadura.
O Estado: Que tipo de curiosidades sobre os bastidores do poder são abordados na obra?
Manoela: Por mais que o livro não tenha a intenção de ser uma obra de curiosidades, acaba sendo, pois todos os entrevistados têm muitas histórias para contar.
Autran Dourado, por exemplo, conta um episódio em que JK teve um problema no coração e foi internado. Como o País não podia saber do fato, o próprio Autran, que tinha um porte parecido com o do então presidente, se vestiu com a roupas de JK e passou pela imprensa como se fosse ele.
Também é curioso como todos os entrevistados justificam seus presidentes, explicando porque as coisas aconteciam da forma como aconteciam. O livro é muito rico, principalmente para quem gosta de história, política e jornalismo.
O Estado: Com a finalização do livro, como você avalia a convivência da imprensa com o governo Federal ao longo dos anos?
Manoela: Como uma relação quase de risco e que nem sempre é linear. Todos os entrevistados relatam conflitos que houveram com a imprensa. No lançamento da obra, o próprio presidente Lula chegou a dizer que a relação com a imprensa é, ao mesmo tempo, muito próxima e de afastamento.
O Estado: A obra também pode ser encarada como uma abordagem sobre a história do Brasil?
Manoela: Os ex-secretários de imprensa e porta-vozes da presidência inevitavelmente comentam sobre os períodos mais críticos de seus trabalhos. Eles respondem tudo de memória.
Porém, o livro tem mais de 600 notas de rodapé, que vão contextualizando o leitor. As notas são quase um livro a parte e fazem com que a obra traga não só a memória de quem viveu, mas também o documento daquilo que foi vivido.
O Estado: Qual a participação do fotógrafo Orlado Brito no livro?
Manoela: Ele é um ícone dentro do fotojornalismo de política. Queríamos que a edição de fotografia fosse realizada por alguém que conhecesse a memória iconográfica de maneira vasta. Boa parte das imagens utilizadas no livro são de Orlando. Porém, ele foi escolhido para a edição antes que houvesse a escolha de suas fotos.
O Estado: Como foi o lançamento do livro em Brasília?,strong>
Manoela: Foi uma cerimônia oficial, dentro do Palácio do Planalto, muito prestigiada e concorrida. Entre os presentes estavam o presidente Lula, o ministro das Comunicações (José Artur Filardi), o ministro da Educação (Fernando Haddad) e José Sarney (Senado). Muitos porta-vozes que moram fora do Brasil também vieram para o lançamento.