Sem ter digerido bem ainda os “anos de chumbo” da ditadura militar que governou o País entre 1964 e 1985, as autoridades brasileiras se engalfinham hoje numa polêmica que beirou a crise institucional, sobre a nova edição do Plano Nacional de Direitos Humanos e da Lei da Anistia.

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A discussão é tão forte que exigiu um “cala boca” bradado pelo presidente Lula a parte de seu ministério na semana passada. É nesse cenário de remissão aos anos da ditadura militar e guerrilha brasileiras que chega às livrarias “Fuga dos Andes”, romance-reportagem do jornalista e escritor paranaense José Antonio Pedriali, lançado pela Editora Record (400 páginas, R$ 57,90).

O livro é resultado das incursões de Pedriali ao Peru, nas décadas de 80 e 90, quando era repórter do jornal O Estado de S. Paulo. O autor mergulha nas entranhas do grupo terrorista Sendero Luminoso sob a roupagem de uma aventura e uma dramática história de amor.

A trama tem o território peruano como cenário, o grupo terrorista Sendero Luminoso como pano de fundo e como protagonistas o repórter brasileiro Humberto Morabito e a peruana Beatriz.

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São coadjuvantes agentes da polícia secreta que buscam um importante líder guerrilheiro, um camponês que simboliza a violência que se abateu sobre as comunidades andinas e um grupo de guerrilheiros que procura um traidor para aplicar-lhe a única pena concebida pelo líder da organização, Abimael Guzmán: a morte.

Começa com a manchete do jornal “La Republica”: “Todos mortos”, que estarrece o jornalista brasileiro a trabalho no Peru. Refere-se ao massacre de oito jornalistas que investigavam o assassinato de um destacamento de guerrilheiros do Sendero Luminoso, atribuído aos camponeses dos Andes.

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Humberto Morabito seria a nona vítima não fosse Beatriz, uma peruana de olhos verdes com quem tivera um encontro arrebatador em Arequipa. O encontro o fez perder o avião que o levaria à viagem com os colegas – e à morte. O massacre dos jornalistas, ocorrido em janeiro de 1983, convulsiona o Peru e desperta a atenção do mundo para o conflito nos Andes.

“O livro foi fecundado durante minha primeira visita ao Peru, em 1983, quando, por ter encontrado uma bela mulher, fui poupado de ter o mesmo fim que meus colegas peruanos, massacrados em Uchuraccay, episódio que analiso com profundidade no livro”, conta Pedriali. “Eu o escrevi em 100 dias, iniciando-o no final de 2006. O parto foi rápido, mas a gestação durou 23 anos…”, comenta.

Pedriali esteve inúmeras vezes no Peru e percorreu o país de alto a baixo, embrenhando-se nos Andes e palmilhando o litoral. Mas não esteve na selva, a região onde se desenvolvem os momentos finais da trama.

“Humberto Morabito é meu alter ego, mas mesclo minhas viagens ao Peru e o trabalho que resultou delas como repórter a um punhado de ficção, sobretudo na parte final do livro”, explica o autor que pessoalmente não teve contato com a guerrilha. “Infelizmente, não. Minha tentativa de contato com a guerrilha é exatamente a vivenciada por Humberto Morabito no romance.”

Mas ele viveu muitas das situações perigosas pelas quais passa o protagonista. Sobre quem seria Beatriz, a mulher pela qual Morabito se apaixona no livro, Pedriali é curto. “Sobre isso tenho que silenciar…”