Livro mostra o Dorival Caymmi da ‘Bahia carioca’

Dorival Caymmi é urbano, é moderno. Não é apenas o compositor e cantor que traduziu com pureza artística a essência baiana. “Ele recriou a Bahia com uma linguagem do rádio e do cinema”, diz André Domingues, autor de “Caymmi Sem Folclore”, que será lançado hoje na Livraria Cultura, em São Paulo. Pesquisador musical, Domingues apresenta uma leitura que desvenda “um projeto coerente de cultura nacional em Caymmi”. A diferença é que, para ele, a arte caymmiana não está no universo do folclore, dos pescadores e do candomblé, mas no mundo do rádio, do disco e do cinema.

Consciente das transformações históricas, Caymmi procurou dar certo, com tentativa e erro. Essa afirmação, diz Domingues, esbarra na ideia de que o compositor baiano era “uma pedra bruta manipulada pela memória social de sua terra”. Ele diz que “a produção baiana ocorre no Rio, na era de ouro da música popular”. “Na terra natal, ele fazia marchinhas cariocas.” Domingues acrescenta que “a Bahia de Caymmi é carioca, reflete o imaginário nacional” da primeira metade do século 20. No livro, mostra as ligações feitas por um pensamento nacionalista entre a arte de compositores populares e uma identidade brasileira baseada em elementos folclóricos.

Em “Caymmi Sem Folclore”, adaptação de mestrado para USP, Domingues, de 33 anos, propõe um recorte temporal. A análise vai de 1938 a 1959, período em que o músico consolida a carreira e cria a maior parte do seu repertório – das 109 canções compostas 69 vêm a público no intervalo de 20 anos. Sua trajetória começa com “O Que É Que a Baiana Tem”, primeira gravação, e termina com o LP “Chega de Saudade”.

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