No primeiro espetáculo, “As Malvadas”, de 1997, o dinheiro era curto e a plateia era formada em sua maioria por amigos e convidados. Hoje, a assinatura da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho tornou-se valiosa – em pouco mais de dez anos, eles aproveitaram o ressurgimento do musical no Brasil (agora sob a forte influência do estilo Broadway) e se firmaram como Os Reis dos Musicais (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), título do apurado livro de Tânia Carvalho sobre sua trajetória que será lançado hoje, no Rio.
Trata-se de um balanço feito pela dupla a respeito basicamente dos 23 espetáculos que criaram juntos. Uma lista tão diversificada e atraente que rendeu até um pocket, “Versão Brasileira”, um pequeno musical em que Botelho, dirigido por Möeller, faz um apanhado de canções que fizeram parte dessas montagens. A estreia ocorre hoje, no Espaço Sesc, no Rio, seguido do lançamento do livro de Tânia.
Botelho e Möeller sabem que não descobriram a pólvora – o musical é um estilo praticado no Brasil desde o início do século 19. Mas conseguiram a alquimia certa, ou seja, unir o apuro técnico e o senso profissional da Broadway com a familiaridade musical típica do brasileiro. A dupla também conquistou o reconhecimento externo, a ponto de receber na plateia de sua montagem de “Company”, em 2001, a presença do próprio autor, o lendário americano Stephen Sondheim. “Ele foi aos bastidores falar com o elenco”, conta Möeller.
Company, aliás, foi um dos primeiros projetos mais ousados assumidos pela dupla que, além das apostas em espetáculos já consagrados lá fora (como “Sweet Charity” e “A Noviça Rebelde”), investiu tanto no cancioneiro nacional (como uma nova versão de “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque) como em montagens mais radicais, cujo exemplo é o recente e desbocado “Avenida Q”.
Möeller e Botelho contam que a perenidade da parceria está justamente no convívio das diferenças. “Deve-se a Charles o apuro estético, visual, o desempenho dos atores e até mesmo os fundamentos teóricos de cada espetáculo”, conta Botelho. “A mim cabe cuidar da música, o que em musical geralmente não é tão pouco.” É desse atrito que a dupla tanto envereda para novos meios (eles foram responsável pelos números musicais da microssérie Dalva e Herivelto) como aposta em trabalhos ambiciosos, como O Despertar da Primavera, que chega em março a São Paulo trazendo um novo talento, Rodrigo Pandolfo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.