Livro conta história do País a partir do futebol

O luxuoso álbum "Brasil, um Século de Futebol – Arte e Magia" (Aprazível Edições, com apoio do MinC e da Bradesco Seguros, 203 págs.) faz aquilo que sabemos ser possível, mas poucas vezes se põe em prática – conta uma parte da história do País a partir do futebol. Ou melhor, a partir das imagens do futebol, pois o que ressalta à primeira vista são as 180 magníficas fotos, escolhidas a dedo pelo editor Leonel Kaz, que também assina o texto introdutório.

As imagens abrangem dos primórdios do futebol no Brasil ao futebol globalizado da era atual. Pelas imagens de jogadores, estádios, cenas de torcidas e imagens de atletas em sua vida extra-campo, tem-se uma pequena história das mentalidades associadas às jogadas que se faziam dentro das quatro linhas. Costurando os blocos de fotos, o texto preciso e saboroso do jornalista João Máximo periodiza o desenvolvimento do jogo da bola entre nós: "Brinquedo de Menino Rico", "O Fim da Infância", "Os Anos Românticos", "A Taça do Mundo É Nossa", "A Globalização da Bola". Os próprios subtítulos das seções resumem essa trajetória. Trazido pela elite e praticado por ela, aos poucos o jogo foi se popularizando. "Os pobres e os negros se apropriaram do futebol, e essa apropriação foi uma das poucas vitórias do povo brasileiro em toda a sua história", diz Kaz.

O livro é uma narrativa dessa vitória, mas em tom nada épico, pelo menos no texto sóbrio de João Máximo. Sabiamente, ele evita o ufanismo, tão comum nesse tipo de livro, solta farpas sobre o sociologismo do futebol e também relativiza algumas afirmativas tidas como verdades absolutas do clássico "O Negro no Futebol Brasileiro", de Mário Filho.

Segundo Máximo, além do fator racial, pesavam também as determinações econômicas no segregado futebol das primeiras décadas do século 20. Máximo comenta os sentidos ideológicos que são atribuídos ao futebol em determinadas épocas – fator de identidade nacional, como na época do getulismo, e de coesão, no tempo dos militares. Falta dizer que o futebol nunca é neutro. Nunca é um jogo e sempre contém alguma significação que vai além dele mesmo.

As fotos, escolhidas com rigor conceitual, falam muito claro de tudo isso – platéias brancas e muito bem vestidas para ver os jogos de gente branca. Depois, os grandes jogadores negros – Leônidas e Domingos – tornando-se ídolos e caprichando nos ternos para impressionar os fãs – as fãs, em especial. Esse recorte histórico não obscurece a qualidade que se associa ao futebol – a emoção.

Quem quer que tenha um coração não deixará de se emocionar com a foto de Garrincha segurando a Jules Rimet como quem embala um bebezinho. Ou o mesmo Garrincha, de terno e gravata, chapéu e guarda-chuva pendurado no braço. Os objetos foram comprados em Milão a pedido de Pincel e Swing, os dois amigos de infância com os quais ele bebia cachaça em Pau Grande. Ou ainda, as multidões acompanhando os jogos da seleção em praça pública. Como não havia transmissão por TV, ouvia-se os jogos por alto-falante e, em alguns casos, acompanhava-se por um telão, com luzes simulando a posição dos jogadores. Era um ritual público. E desaconselhável para cardíacos.

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