Quando se apresenta com o nome completo, a alemã Christiane Felscherinow passa despercebida. Basta uma simples redução no sobrenome para essa senhora de 51 anos, olhos verdes e mãos marcadas por cicatrizes, revelar o lado negro de seu passado. Negro mas, ironicamente, responsável pela fama. Christiane F. tornou-se, nos anos 1980, símbolo da degradação provocada pelas drogas em uma criança. E seu livro, Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Nós, as Crianças da Estação Zoo), publicado em 1978, tornou-se um fenômeno mundial, publicado em 18 idiomas e inspirando um filme, dirigido por Uli Edel e de idêntico sucesso.

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Lançado no Brasil com um título apelativo, Eu, Christiane F, 13 Anos, Drogada e Prostituída, o mesmo adotado nas versões internacionais, o livro também se tornou referência por apresentar um chocante mundo em que crianças destroem sistematicamente seus corpos e almas com drogas. Passados 35 anos, Christiane não abandonou o vício e agora, com a hepatite C devorando seu fígado, decidiu contar como foi sua vida desde que conheceu o sucesso. Na semana passada, lançou o livro Mein Zweites Leben (Minha Segunda Vida) e, na sexta-feira, 11, participou de um concorrido debate na Feira de Frankfurt.

Christiane apresenta uma dolorosa trajetória – com apenas 12 anos, provou haxixe pela primeira vez. Mudou para a heroína com 13 e, aos 14, já estava se prostituindo para financiar o vício. Uma temporada morando com a avó, com 15 anos, pareceu o caminho da redenção, mas logo a situação desandou para Christiane – condenada por envolvimento com drogas, passou 10 meses em uma prisão de mulheres. Também colecionou abortos e relacionamentos fracassados, em quantidades que competiam entre si. Abandonou um programa de formação em contabilidade, passou sete anos na Grécia sem um lar permanente até contrair hepatite C. E, para não ficar ultrapassada na dependência química, logo testou (e gostou) ecstasy.

Mas nada foi mais terrível que a perda da guarda do filho Christian, hoje com 17 anos. A Justiça desconfiava da capacidade de Christiane para criar o garoto, e a gota d’água foi quando o sequestrou (ele vivia em um abrigo por decisão judicial) e o levou para a Holanda.

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Praticamente, nada a qualificava como mãe – apesar de abandonar a prostituição, não se livrou jamais do vício. Hoje, se diz satisfeita com as visitas semanais a que tem direito.

Com uma trajetória tão controversa, Christiane não escapou das fofocas e foi para sanar boatos e inverdades que ela decidiu escrever um novo livro – além, é claro, da possibilidade de faturar um pouco mais com novos honorários (Christiane ainda recebe cerca de 2 mil euros pelos direitos do primeiro livro e do filme).

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.