A pergunta “o que você tem escutado de bom?” é frequente nos bate-papos online entre jornalistas, e, em 2013 ela tem sido difícil de responder. Isso, não pela falta de qualidade, mas pela quantidade de discos imponentes – em termos de marketing e relevância – que vimos nos últimos seis meses. Tal enxurrada tem transformado a cobertura musical em um frenesi de opiniões e expectativas mais emaranhado do que o de costume – algo semelhante ao que se passa em nossas contas de Facebook, com as manifestações recentes. E assim, a intensidade cataclísmica com que surgem os Timberlakes, Daft Punks e Kanye Wests de 2013 – para não falar das novidades – dificulta uma assimilação mais pessoal dos discos, e faz com que a resposta à pergunta acima seja menos passional do que a desejada.

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“O que você tem escutado de bom?” “Olha, preciso olhar uma planilha para responder”, é mais ou menos como as coisas caminham em 2013. Um exemplo: tanto alarde se fez sobre Random Access Memories, o novo disco do Daft Punk, lançado em maio, que a emissão urgente de um parecer tirou de muitos o encanto sutil proporcionado pelo disco. A deficiência de uma opinião repentina é o fardo de musicófilos sem tempo para estabelecer uma convivência íntima com um álbum, por conta da velocidade na qual as coisas caminham, e assim responder à pergunta acima com mais pontos de exclamação: “Cara, Random Access Memories é realmente fantástico! Não paro de ouvir”.

Assim, na tentativa de colocar alguns álbuns em perspectiva menos robotizada e lembrar o que parece ter sido esquecido por conta da tempestade de lançamentos, vamos aos nossos 20 centavos sobre os discos essenciais do ano, até agora.

Além de marcado pelo impacto meteórico que foi a chegada de Random Access Memories, 2013 tem sido um ano de retorno para heróis da cultura pop. Parece que muito tempo passou desde que David Bowie surpreendeu todos com The Next Day, um disco de considerável verve veterana, marcado por uma estética convencional, de rock sem firulas, que veste meditações singelas sobre vida, morte e envelhecimento. Mas Bowie mostrou navegar sua fase tardia com a classe de sempre, em março. Um caso não muito distante é o do disco 13, do Black Sabbath, lançado há duas semanas, que em sua maneira menos filosófica, também pondera sobre o passar dos anos.

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Em outra faixa etária, mas com expressividade em par, está o MBV, de My Bloody Valentine, ícones do rock alternativo do início dos anos 90. A banda de Kevin Shields não lançava um disco desde o clássico Loveless, de 1991, mas retornou com uma densa coleção de faixas submersas em distorção, uma masterclass em fusões de guitarras e melodias etéreas, tão imaginativa que flerta até com drum and bass sem perder a classe. Trata-se de outro caso de um disco que demorou para ser compreendido e, depois do frenesi, perdeu o impacto.

Será lembrado apenas nas listas de fim de ano, assim como Fade, do Yo La Tengo, banda contemporânea do My Bloody Valentine, que voltou com um apanhado despretensioso de canções bucólicas e ensolaradas.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.