A morte do escritor português José Saramago, aos 87 anos, foi comentada por personalidades da cultura, política e literatura. O ministro da Cultura, Juca Ferreira, divulgou na manhã de ontem uma nota oficial lamentando a morte do autor.

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Segundo ele, o autor José Saramago mantinha relações privilegiadas com o Brasil e esteve presente em diversos eventos literários no País, se tornando muito popular antes mesmo de conquistar o Prêmio Nobel.

O músico e escritor Chico Buarque lamentou a morte de Saramago: “Perco um grande amigo. Perdemos todos um ser humano admirável, um escritor imenso, zelador apaixonado da língua portuguesa”, escreveu Chico Buarque no blog da Companhia das Letras.

“A sua perda é recebida com muita tristeza, particularmente pelos que têm apreço pela língua portuguesa e por sua importância cultural em tantos continentes. O Ministério da Cultura do Brasil se soma aos que lamentam e manifestam a dor pela perda desse grande escritor”, diz a nota.

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O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), o acadêmico Marcos Vinicios Vilaça também manifestou seu luto, através de um comunicado: “A Academia estava aguardando a informação de quando José Saramago viria ao Rio para providenciara organização da sua posse na Cadeira 16 de Sócio Correspondente. A notícia nos deixou em estado de enorme tristeza. A próxima sessão acadêmica, quinta-feira que vem, dia 24, na ABL, será dedicada à memória do grande escritor português, por quem sempre tivemos o maior respeito e admiração”.

Já o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que está em visita oficial a Varsóvia, na Polônia, destacou por meio de nota que Saramago deixou “uma extraordinária contribuição para a literatura mundial e para a valorização da língua portuguesa, além de representar, por sua conduta pessoal, um exemplo de atuação engajada em favor de um mundo mais justo”.

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A presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Rosely Boschini, ressaltou a importância da difusão para língua portuguesa por Saramago: “Foi fundamental para difusão da língua portuguesa e para quem se dedica a produzir e difundir o livro e a literatura deste idioma. Trata-se de uma das perdas irreparáveis na história da quinta língua mais falada no mundo. Uma única palavra tão singular de nosso idioma pode traduzir um pouco daquilo que Saramago deixa conosco: saudade!”.

O cineasta brasileiro Fernando Meirelles, diretor de Ensaio sobre a cegueira (2008), também lamentou a morte de José Saramago dizendo ser difícil escapar de clichês neste momento: “O mundo ficou ainda mais burro e ainda mais cego hoje”. O diretor enviou um texto por e-mail contando sobre seus recentes encontros com o escritor. Sua produtora, a O2 Filmes, está co-produzindo um documentário sobre os últimos anos de Saramago e sua mulher.

O escritor

José Saramago, que sofria de graves problemas respiratórios, morreu ontem em sua casa, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Sua morte foi divulgada pelo site do jornal espanhol El País e confirmada pelo editor do autor, Zeferino Coelho. O editor informou que a saúde do escritor havia piorado nos últimos meses, por causa de uma doença, mas não deu mais detalhes.

Nascido em 1922, em Azinhaga, no Ribatejo, a 100 quilômetros de Lisboa, o autor recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. O El País lembra em seu site que Saramago teve origem humilde, sendo forçado a abandonar a escola e trabalhar desde cedo para ajudar a família.

Saramago foi um homem franco e muitas vezes irritável, contrariando muitas pessoas. Após uma confrontação pública com o governo português, em 1992, mudou-se no ano seguinte para as Ilhas Canárias, onde vivia desde então. Desde a década de 1980, era um dos escritores de maior êxito em seu país. Seus trabalhos já foram traduzidos para mais de 20 idiomas.

Entre os livros de Saramago estão O evangelho segundo Jesus Cristo, que despertou fortes críticas do Vaticano, além de Ensaio sobre a cegueira e A jangada de pedra. Sua última obra é Caim, publicado em 2009.

Em alguns momentos, Saramago chegou a ser comparado com outro ganhador do Nobel de Literatura o colombiano Gabriel García Márquez, pois alguns viram no europeu uma pitada do realismo mágico latino-americano, particularmente na estratégia de mesclar personagens fictícios e históricos.