Liliana Castro perdeu o número de testes que fez, mas não a esperança

A atriz Liliana Castro já nem lembra mais quantos testes fez para a Globo. Desde que concluiu a Oficina de Atores, em 97, tentou “Malhação”, “Porto dos Milagres”, “O Clone”… Mas não passou em nenhum. E tampouco sabe porque não passou. “Cheguei a pensar que havia algo errado comigo”, lembra. Isso até ser convidada para outro teste, em “Sabor da Paixão”. Ela até cogitou recusar, mas decidiu arriscar quando soube que a diretora seria Denise Saraceni, com quem sempre sonhou em trabalhar. Por isso, ela não acreditou quando recebeu a notícia de que tinha sido aprovada. E acreditou menos ainda quando ouviu, da boca da própria Denise, que era a grande aposta da novela. “Prefiro nem pensar nisso. Mas estou feliz com a chance que ela me deu. Se não fosse por ela, talvez nem estivesse fazendo a novela”, garante.

Na trama de Ana Maria Moretzsohn, Liliana foi escalada para interpretar Laiza, a irmã mais geniosa de Diana, personagem de Letícia Spiller. Mas Laiza não está ali apenas para fazer sombra para Diana. Ela tem seus próprios conflitos para se preocupar. A começar pelo infortúnio de ter engravidado aos 14 anos e ter criado a filha como se fosse uma irmã. “Esse é o grande dilema da vida dela. Depois de tanto tempo, não sabe se assume a filha ou se deixa como está”, argumenta. Como se não bastasse o conflito materno, Laiza ainda se apaixona por um homem casado, Luís Felipe, vivido por Cláudio Lins. “Comecei a gravar sem a menor noção do tamanho da papel. Só percebi que era grande quando não tive mais folga na semana”, brinca.

De fato, Liliana tem gravado dez cenas por dia, seis dias por semana. Mas ela não se atemoriza. Antes do início das gravações, levou dois meses “gestando” a personagem, entre aulas de expressão corporal e os mais variados “workshops”. “Achei bárbaro. Só assim pude ir descobrindo a Laiza aos poucos”, esclarece. Se dispor de tempo para compor a personagem foi bom, contracenar com atores experientes, como Lima Duarte e Cássia Kiss, foi melhor ainda. Ela só lamenta que Miguel, personagem de Lima Duarte, tenha morrido tão cedo na trama. “Foi uma pena. Adoraria ter contracenado mais tempo com ele. Essa família foi um presente dos deuses!”, derrama-se.

Hora certa

Por essas e outras, Liliana está convencida de que estreou na hora certa. E na novela certa também. “Cada coisa tem seu tempo. Se eu não acreditasse nisso, teria pirado. Ator é um bicho sensível para caramba!”, dramatiza. Antes de “Sabor da Paixão”, ela trabalhou como apresentadora do canal Fox Kids. O convívio com a garotada levou a TV Cultura a convidá-la para integrar outro projeto voltado ao público infanto-juvenil: o “Ilha Rá-tim-bum”. Reconhecer essa bela ruiva de pele clara e expressivos olhos escuros em cena, porém, não é uma tarefa muito fácil. “A Polka é tão caracterizada que eu mesma não me reconheço no vídeo”, exagera. Interpretar uma personagem tão caracterizada assim teve lá suas vantagens. Ser pouco assediada nas ruas era uma delas. Não que ela seja dessas atrizes que sofrem de misantropia ou coisa parecida. Mas ela admite que a idéia de ficar famosa do dia para a noite a deixava apreensiva. “Se você incorpora a fama, as coisas pioram. Mas, se você abstrai, tudo fica mais tranqüilo”, tenta explicar. Mas não é bem assim. Embora alguns amigos tenham garantido que o assédio só começa no segundo mês de novela, Laiza levou um susto quando alguém berrou seu nome na rua com apenas cinco dias de estréia. “Fiquei numa ?nóia? que você nem imagina…”, confessa.

Passados dois meses, Liliana se diz mais acostumada com o assédio nas ruas. Certa vez, uma senhora que a abordou no banco quase a levou às lágrimas ao enaltecer o caráter da personagem. Mas nem todo o reconhecimento do público convence Liliana a se firmar na tevê. Ela é do tipo que prefere assinar contrato por obra certa a fechar por tempo indeterminado justamente por não saber o dia de amanhã. “Não sou atriz de tevê, cinema ou teatro. Sou atriz e ponto final. Estou feliz com o meu atual trabalho, mas quero trilhar outros caminhos”, assegura Liliana.

Espírito nômade

Sempre que preenche formulários, Liliana Castro provoca as mesmas reações de espanto. Afinal, apesar de ter nascido em Quito, no Equador, ela é brasileira. “Meu pai é diplomata e, na ocasião, ele trabalhava lá. Mas sou cidadã brasileira porque ele me registrou no consulado”, enfatiza. Por conta da profissão do pai, Liliana não parava num mesmo lugar por muito tempo. Dos muitos países em que morou, cita a Itália, Venezuela e Paraguai. “O bom de ser nômade é que aprendi três idiomas, além do português. Também falo inglês, italiano e espanhol”, acrescenta.

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