Letrista do Barão Vermelho lança livro

Rio – Está nas livrarias Olho frenético (Editora Aeroplano), segundo livro de Mauro Santa Cecília, poeta carioca mais conhecido por suas letras, em especial as musicadas por Roberto Frejat e Maurício Barros, líder e tecladista do Barão Vermelho. Pelas palavras de Mauro, o Barão caiu novamente nos braços e tímpanos do povo com o hit Por você, de 1998.

Àquela altura, porém, Mauro, que vive no Bairro Peixoto e é pai de um menino cheio de vocações literárias, já havia estreado como poeta, com A todo o transe (Sete Letras, 1997) e vencido um concurso Stanislaw Ponte Preta, em 1994. A ainda breve carreira foi marcada por relações carnais com a música.

Além de letrista – a melhor vitrine ou telhado de vidro do poeta nos dias de hoje -, Mauro fez dos recitais musicados uma marca: reunia, em teatros, bares e na rua, músicos como Maurício Barros, George Israel, Rogério Meanda, Mimi Lessa, Roberto Frejat e Fernando Magalhães e soltava o verbo, sobre loucas bases musicais. Olho frenético já mostra os reflexos dessa experiência.

"O livro se divide em duas partes porque na primeira, "Janela??, estão os poemas, ao todo 24; e na segunda, "Fresta??, as letras de música, que são seis – explica Mauro.

Entre os poemas musicados, Por você em versão original, com versos inéditos, é uma das atrações. "Resolvi incluí-lo porque a música Por você se originou deste poema e ele contém versos que não foram aproveitados na canção. Versos como "Por você, eu roubaria uma velhinha/eu dançaria tango no teto da cozinha??. Isto poderia interessar às pessoas que gostam da música."

Para o jornalista Arthur Dapieve, que assina um dos comentários na contracapa do livro, "Mauro é um talento para ser lido, declamado, cantado. Ele tanto nos empresta a melhor declaração de amor brasileira dos últimos dez anos (Por você) como nos sugere o texto de um spam para todas aquelas moças reticentes (Hasta La Vista). Poesia para a vida real??, escreve.

Como assinala Dapieve, o livro exibe um Mauro pouco conhecido dos que tiveram acesso à obra dele através da música. Hasta la vista, um hay kay – ou spam, como sugere o jornalista -, mostra a face menos pop do poeta: "Cansei desse seu c… doce/Que aliás nem conheço??. Descontraidíssimo!

O compositor Fausto Fawcett, que também rasga elogios ao livro na contracapa, afirma que Mauro usa as palavras como "flechas equipadas com granadas de efeito musical/emocional na ponta??. Sangrou, diz o poeta e comporitor de Copacabana a respeito do vizinho do Bairro Peixoto, tá novo.

A força da poesia de Mauro tem explicações em suas influências, como ele mesmo explica: "A geração beatnik para mim é realmente uma grande influência. Não só a poesia, mas a literatura de um modo geral. Sou fã de Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Carl Solomon, Lawrence Ferlinghetti & Cia – afirma, em entrevista por e-mail, antes de citar Carlos Drummond de Andrade, Chacal e Cazuza como referências fora da geração que marcou a poesia americana no início da segunda metade do século passado.

O título do livro define bem o olhar poético de Mauro: "Acho que é o poema que melhor traduz a minha necessidade de me fragmentar para encarar artisticamente o aqui e agora. O meu olhar é estilhaçado. Como a minha poesia". Quando Frejat lançou seu primeiro disco solo, Amor para recomeçar, faixa título cuja letra fora adaptada por Mauro a partir de um poema de Victor Hugo, Mauro foi criticado e ouviu insinuações de plágio. No novo disco do Barão ele repetiu a receita, convertendo em letra de música o poema Embriague-se, de Charles Baudelaire. Ele explica: "Cazuza adaptou Clarice Lispector. Renato Russo adaptou um trecho da Bíblia. Mas não necessariamente uma obra-prima vai dar boa coisa ao ser transposta para outro meio. É preciso "enxergar?? que tal obra literária dá caldo, que ela pode fazer sentido no cinema ou na canção. Deu certo em Amor pra recomeçar e acho que também pode dar com "Embriague-se", mas não é uma fórmula da felicidade. Hitchcock dizia que para fazer seus filmes preferia adaptar romances obscuros aos clássicos, pois estes são irretocáveis. Claro que é um risco adaptar um poema de Baudelaire, por exemplo, porque se você erra a mão você estraga o que é perfeito.

Embriague-se, do novo disco do Barão Vermelho, é uma canção maravilhosa, com um arranjo roqueiro que qualquer fã da banda vai adorar. A gravadora Warner estará errando na mão se não divulgá-la.

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