Letícia Spiller volta a fazer papel de mulher má, agora uma que usa o sexo para se dar bem

Nos tempos de paquita, Letícia Spiller foi apelidada pela diretora Marlene Mattos de Pituxa Pastel. Das assistentes de palco do Xou da Xuxa, era a mais distraída e estabanada. “Coisas de geminiana”, brinca. Hoje, aos 30 anos, a atriz Letícia Spiller se mostra atenta e cuidadosa. Antes de responder a certas perguntas, pensa bastante e estuda cada palavra. Na carreira, ela também é assim. Para aceitar um determinado trabalho, como a ambiciosa Viviane de Senhora do Destino, pondera todos os prós e contras. Na dúvida, sempre se pergunta se já fez algum papel parecido com aquele. “Gosto de percorrer sempre o caminho oposto ao que já fiz antes. Só assim, sinto tesão em um trabalho”, observa.

Na nova novela das oito, Letícia interpreta a sensual Viviane, que exerce dupla função na vida do Vereador Reginaldo, de Eduardo Moscovis. De dia, ela é assessora parlamentar. À noite, amante. “A Viviane usa o sexo em proveito próprio. Ela é bem cachorra, do tipo que existe aos montes por aí”, acredita. Além de nunca ter feito uma “cachorra” antes, Letícia queria retomar a parceria com o autor Aguinaldo Silva, o mesmo de Suave Veneno, novela que revelou a obstinada Maria Regina, uma de suas personagens favoritas. “Fiquei triste quando a Maria Regina morreu. No fundo, todo mundo merece uma segunda chance”, lamenta.

Ao longo dos anos, Letícia Spiller deixou de interpretar outros tipos marcantes na tevê. Por causa das filmagens de Oriundi, por exemplo, declinou dos convites de Wolf Maya para fazer Hilda Furacão e Pecado Capital. Anos depois, a história se repetiu. Às vésperas de estrear o espetáculo O Falcão e o Imperador, foi chamada por Luiz Fernando Carvalho para fazer Os Maias. Disse não. Pouco depois, um novo convite. Dessa vez, de Jayme Monjardim, para interpretar a Jade de O Clone. Outro não. Resultado: uma licença sem vencimentos de oito meses da Globo. “A vida é feita de momentos e, naquele momento, eu tinha a peça para fazer. Só espero que o Jayme não tenha levado para o lado pessoal. Adoraria trabalhar com ele algum dia”, enfatiza.

Temperatura máxima

Aos 15 anos, Letícia Spiller descobriu que queria ser atriz. Tudo começou quando ela foi ao teatro assistir ao espetáculo Os Menestréis, escrito e dirigido por Oswaldo Montenegro. No dia seguinte, lá estava ela se matriculando no curso teatral do Tablado, de Maria Clara Machado. Na tevê, Letícia começou como paquita. Ela estava assistindo à tevê na casa de uma amiga quando soube que Xuxa Meneghel havia aberto inscrições para assistente de palco. “O tempo em que trabalhei com Xuxa foi importante porque aprendi a ter disciplina. E a amizade permaneceu. Só não falo mais com ela porque nós duas trabalhamos muito”, justifica.

O primeiro trabalho de Letícia em novelas não passou de uma participação em Despedida de Solteiro, novela escrita por Walter Negrão em 1992. Dois anos depois, a atriz foi convidada pelo diretor Ricardo Waddington para substituir Adriana Esteves, que recusou o papel de Babalu em Quatro por Quatro, de Carlos Lombardi. A silhueta escultural da moça logo despertou a cobiça dos executivos da Playboy. Mas o que era apenas sugerido no vídeo foi revelado na peça Heloísa e Abelardo, de Moacyr Góes. “Expor o corpo é sempre difícil, mas, na peça, não ficou uma nudez ostensiva. Pelo contrário. Estava dentro de um contexto”, ressalta.

Na tevê, Letícia se orgulha também de ter feito a romântica Giovanna, da primeira fase de O Rei do Gado, e a Maria Regina, de Suave Veneno. Para interpretar a primeira, a perfeccionista atriz chegou a freqüentar uma fazenda no interior de São Paulo. “Lá, acordava de madrugada para acompanhar o trabalho dos bóias-frias”, recorda. Já em Suave Veneno, realizou o sonho de fazer a primeira vilã da carreira. Desde criança, gostava de interpretar tipos maquiavélicos. Nas peças de teatro que improvisava em casa, a futura atriz brigava sempre pelo papel da Madrasta… “Sabia até imitar as risadas da bruxa”, diverte-se ela.

Autoconhecimento

Já houve um tempo em que Letícia Spiller vivia muito ansiosa. A moça não fazia outra coisa na vida se- não roer as unhas e morder os lábios. Na época de Suave Veneno, por exemplo, sentiu-se injustiçada pela saraivada de críticas que recebeu por conta das caras e bocas da tresloucada Maria Regina. Para superar a ansiedade, resolveu praticar ioga e meditação e estudar zen-budismo. “Tenho de ser guerreira naquilo que faço. E guerreiro é aquele que luta até o fim da vida e não um dia apenas”, filosofa, citando o dramaturgo alemão Bertolt Brecht.

Os raros momentos de descanso da “guerreira” são vividos em Correas, na região serrana do Rio. Lá, a atriz se reserva o direito de fazer o que mais gosta: treinar capoeira, andar de bicicleta ou rolar na grama com o filho Pedro, de sete anos, fruto de seu relacionamento com o ator Marcello Novaes. Nos últimos anos, Letícia descobriu também outro “hobbie”: escrever poesias. Mas, ao contrário de outros atores, como Antônio Calloni, ela não pensa em publicar seus poemas. “Gosto muito de escrever, mas ainda estou engatinhando nessa área”, desconversa, encabulada.

Projetos mesmo, Letícia Spiller tem dois: fazer uma minissérie na Globo e estrelar um musical no teatro. “É um erro ir com muita sede ao pote. Na vida, a gente tem de ir com calma, aproveitando cada minuto bom”, ensina.

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